GT 018. Antropologia dos Esportes: desdobramentos epistemológicos e teórico-metodológicos nos estudos das práticas esportivas
Wagner Xavier de Camargo (UFSCar) - Coordenador/a, Luiz Fernando Rojo Mattos (UFF) - Coordenador/a, Mônica da Silva Araujo (UFPI) - Debatedor/aEste grupo de trabalho é fruto de estudos e esforços da antropologia brasileira em compreender das práticas esportivas em sua interface com a sociedade. Nos últimos encontros da RBA (desde 2000) e da RAM (desde 2001), compreendemos que o esporte institucionalizado e as práticas esportivas estão cada vez mais presentes na vida dos sujeitos e têm adquirido maior visibilidade, tanto no cenário brasileiro, quanto no Sul-americano. Como efeito, vimos um aumento exponencial representado no número de pesquisadoras/es (seja na qualidade dos trabalhos, seja na amplitude temática), e tal aspecto se reveste no incremento (e verticalização) de problemáticas concernentes à área. Nesse sentido, é no espaço do GT que aprofundamos e refinamos alguns debates mais clássicos da antropologia, como conceitos de identidades e etnicidade, teorias do indivíduo e da pessoa, usos do corpo e estruturas de poder, além de outros mais contemporâneos, como as questões de gênero, sexualidade e erotismo, interseccionalidades, novas subjetivações e as próprias práticas esportivas. Essas temáticas emergem de etnografias densas e plurais, que abordam distintas modalidades esportivas como o futebol, vôlei, basquete, rugby, lutas e artes marciais, esportes de aventura, ciclismo, natação, dança e outras. O objetivo deste GT, portanto, é possibilitar e dar manutenção ao espaço de diálogo, trocas, interlocução e colaboração entre pesquisadoras/es envolvidas/os com o universo dos esportes.
Resumos submetidos |
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(“Y” / “T” / “V”) – “X”: Notas sobre o padrão feminino em competições de fisiculturismo Autoria: Marília Da Silva Lima Autoria: No presente texto proponho a análise das categorias antropométricas de julgamento e padronização exigidas no âmbito das competições de fisiculturismo. No que tange, especificamente, a participação de mulheres fisiculturistas há critérios competitivos “não oficiais” nos quais são gerenciadas fronteiras morais sobre as concorrentes consideradas “mais femininas”, “menos femininas” e “masculinizadas”; os jurados estariam em busca do “pacote total” – designação nativa que se refere à constituição muscular em oposição ao masculino, expectativas atribuídas a “beleza feminina”, além do carisma individual manifestado pela “simpatia”, “graça”, “confiança” e “estilo” das competidoras. Em face das ambiguidades suscitadas por corpos em constante manipulação, que borram a todo o momento os limites normatizadores acerca de uma pretensa oposição binária, argumento que os regulamentos das competições qualificam e gerenciam diferentemente as expectativas e exigências sobre corpos “masculinos” e “femininos” como parte de uma série de estratégias de legitimação e publicização da modalidade empreendida, sobretudo, pela federação estudada.
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A circulação de futebolistas brasileiras para o exterior e a transformação no panorama do Futebol Feminino brasileiro. Autoria: Caroline Soares de Almeida Autoria: A cartografia humana que envolve o Futebol Feminino no mundo tem se transformado nos últimos anos. Os fluxos que orientam essas movimentações são efêmeros e dependem da manutenção das redes de relações que envolvem clubes e futebolistas. Desde 2014 esse cenário vem sofrendo alterações no que tange tanto à reconfiguração os países receptores, quanto na velocidade com que esses deslocamentos acontecem. O fator que prepondera sobre essas varações está bastante ligado ao surgimento – e proliferação – de agências/agentes esportivas para a gestão das carreiras de jogadoras de futebol. Os números sofrem mudanças a cada temporada, o que faz com que muitas vezes haja uma quantidade de brasileiras, considerada alta em termos de elenco, atuando num mesmo clube. Este work tem por objetivo apresentar um panorama da movimentação global de futebolistas brasileiras - ou que atuam no Brasil-, tendo em vista os fluxos migratórios que levaram essas mulheres a diferentes gramados ao redor do mundo, entre os anos de 2016/2017. Dentro dessa perspectiva, procuro traçar os principais fluxos e as transformações ocorridas à medida que as agências de planejamento de carreiras esportivas foram assumindo as transações entre clubes e futebolistas.
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A negra no futebol brasileiro Autoria: Mariane da Silva Pisani Autoria: O livro do cronista e jornalista Mário Rodrigues Filho, intitulado “O negro no Futebol Brasileiro”, realizou na década de 1960 um resgate de histórias e relatos sobre a consolidação do homem negro nessa prática esportiva. Ainda que o conteúdo desse paper apresentado seja diferente daquele que nos traz o jornalista Mário Rodrigues Filho, o título desse work busca resgatar algumas narrativas mulheres negras jogadoras de futebol.
No Brasil, até meados da década de 1970, as mulheres não podiam participar de determinadas modalidades esportivas e a primeira pesquisa sobre mulheres e esporte é do início da década de 1990. Contudo, fala-se da mulher enquanto categoria essencializada, ou seja, não se pensa com especificidade no lugar da mulher negra dentro do ambiente esportivo. É preciso recorrer aos registros de algumas competições, para se ter uma ideia, mesmo que superficial, da trajetória de mulheres negras no esporte brasileiro.
Esse paper, visa portanto, pensar o lugar dessa mulher negra no espaço esportivo brasileiro. Especificamente na prática futebolística. Para isso, recorremos à experiência etnográfica vivida durante a pesquisa de Doutorado em Antorpologia Social com mulheres jogadoras de futebol da cidade de São Paulo.
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Brincar com seriedade: A “esportivização” da prática de se soltar pipa Autoria: Fernando Cabral Morselli Guerra Autoria: A prática de soltar pipa, vem sendo modificada consideravelmente ao longo dos últimos anos. Prova disto é que em dias atuais, pode-se ver a atividade sendo realizada em sua maioria por adultos, que se deslocam a locais específicos em dias pré-estabelecidos para realizar tal atividade. Em meio a este cenário, vislumbra-se ainda uma crescente tentativa de (re)interpretar a pipa, desta vez como esporte.
Tal fato é muito sugestivo quanto à mudança de tom relacionada à prática de se soltar pipa. Se antes a brincadeira continha apenas regras subentendidas e coletivamente aceitas, agora passa a ter um estatuto, que temporariamente é rediscutido e aprimorado, confirmando uma tentativa de controlar o que se considerava descontrole. Tal ação é baseada majoritariamente em uma esperança de se desvincular do estigma de “marginal”, “vadio” e “inferior” de que a pipa e seus adeptos sofrem cotidianamente.
A criação da Liga Carioca de Pipa Esportiva em 2017 trouxe a tona um outro perfil de pipeiro, diferente do indivíduo que costumava frequentar os festivais de pipas em suas horas de lazer. Uniformizado e com treinos regulares, disputando prêmios e um acesso a campeonatos internacionais, o pipeiro dos campeonatos passa a entender-se como atleta, deixa de frequentar festivais. Isto acaba criando certo estigma entre os praticantes da atividade de soltar pipa, isto é: pipeiros frequentam os festivais, atletas da pipa somente os campeonatos.
Ou seja, ao transformar o que era brincadeira em esporte, se eleva o status da prática, retirando dela seu caráter marginal. Dentro do ideal social que temos, ser marginal é não seguir os padrões hegemônicos de comportamento, estar no limiar. Se é marginal por transgredir os valores estabelecidos em códigos, estatutos e etc. Então, pipeiros de festival não seguem os códigos e continuam sendo marginais, pipepiros de campeonato carregam consigo o acordo de seguir as regras estabelecidas em estatuto e ganham outro status
Ao que parece então, o problema não está exatamente em ser marginal, mas sim na forma em que a atividade é exercida pelo indivíduo, isto pois, sabemos que há certo preconceito com atividades de lazer de uma forma geral, sendo ele visto como o contrário do work, aonde se estabeleceria a seriedade regrada e necessária para se conviver em sociedade.
Através do que podemos chamar de “esportivização”, eleva-se o simples jogo ou a brincadeira ao status de esporte, dando a ele ares hegemônicos de civilidade. Ou seja, um regulamento próprio que deve ser seguido, onde todos os praticantes estão de acordo e cientes dos limites a que se pode chegar. Isto parece dar caráter pudico a atividade de soltar pipa, atestando-a como prática usual entre a sociedade.
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Consumo, futebol e processos identitários: mediações que perpassam o circuito futebolístico da cidade de Araraquara-SP. Autoria: Larissa Nunes Ziviani, Larissa Nunes Ziviani
Ana Lúcia de Castro Autoria: Este work toma como objeto a relação entre futebol, consumo e processos de construção de identidades, buscando elucidar as mediações que perpassam o universo futebolístico da cidade de Araraquara com enfoque na agremiação futebolística da cidade, a Ferroviária S/A, seus torcedores e o consumo material e simbólico dos bens que envolvem este esporte, através de uma pesquisa com inspiração etnográfica. Pressupõe-se que as mediações entre a Ferroviária S/A, seus patrocinadores, torcedores e o consumo de artigos esportivos do clube estão relacionadas à complexa discussão acerca dos processos identitários enquanto formas de representação social, uma vez que envolvem práticas de significação e sistemas simbólicos. Buscamos analisar o universo das torcidas de futebol, partindo da reflexão de Mary Douglas e Baron Isherwood (2009), na qual demonstram que o consumo carrega consigo um sistema de significação em que os bens podem ser percebidos como categorias culturais e comunicadoras de valores sociais. Neste sentido, cada escolha de consumo expressa um julgamento moral, além de ser carregada de significados sociais e culturais; assim, podemos pensar que as marcas esportivas produzem um universo de “bens comunicadores”, que são, segundo Douglas e Isherwood (2009), capazes de estabelecer pontes ou cercas com outros grupos de consumidores, criando vínculos e fronteiras entre indivíduos que compartilham destes mesmos símbolos. Em outras palavras, trata-se de discutir se e como os produtos futebolísticos detém o poder de estabilização de significados sociais, fornecendo elementos aos indivíduos e grupos para elaboração de processos identitários e possibilitando a expressão de estilos de vida e a tessitura de redes de sociabilidade. Para tanto, adotamos como estratégia metodológica a observação em espaços de torcida, como o estádio da cidade a “Fonte Luminosa” e bares que reúnem torcidas em dias de jogos na cidade de Araraquara, buscando estabelecer situações dialógicas com os interlocutores que se destacarem nestes contextos. Além desta imersão etnográfica, buscaremos entrevistar torcedores e representantes da área de marketing das empresas patrocinadoras da Ferroviária S/A, visando captar, no discurso presente no campo empresarial, as motivações para este tipo de investimento publicitário.
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Corpos Elegíveis, Corpos Soberanos: sobre a regulação das variações intersexuais no esporte de alto rendimento Autoria: Barbara Gomes Pires Autoria: A experiência da intersexualidade tem muitas facetas. Ainda que grande parte das histórias que temos acesso evidencie a primazia do ambiente hospitalar como central para o debate contemporâneo sobre integridade corporal e autonomia em relação aos corpos e às vidas de pessoas intersexuais, outras dinâmicas sociais também promovem algum tipo de regulação dos sujeitos que destoam dos ideais sexuais e das normas generificadas. Neste registro, o esporte aparece como espaço privilegiado de classificação e de regulação das pessoas com características sexuais atípicas, ou mesmo de pessoas que não sustentam às expectativas sociais de como homens e mulheres devem existir. Essas regulações generificadas, marcadas por representações morais do que constitui o corpo sexuado e o corpo social, organizam a elegibilidade esportiva através da debilitação do corpo intersexual. No fim, conformam as corporalidades atípicas aos ideais de soberania do corpo político hegemônico: onde o excesso no corpo feminino é costumeiramente mutilado.
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Correndo pelas ruas – novos modos de “fazer a cidade” em Fortaleza – CE Autoria: Lara Virgínia Saraiva Palmeira Autoria: O artigo objetiva refletir sobre o “uso da rua” e do espaço público através da corrida de rua na cidade de Fortaleza – CE, tomando a prática esportiva como uma nova forma de “fazer a cidade”, nos termos de Agier (2011). Dallari (2009) aponta a corrida de rua em sua forma atual como um fenômeno sociocultural contemporâneo, constituída por uma multiplicidade de valores e hábitos.
Além dos benefícios a saúde que proporciona, mais do que condicionamento físico ou perda de peso, a corrida de rua é sentida pelos seus participantes como uma festa, uma celebração. Correr pela cidade modificaria nossas relações com a cidade, pois a memória e a afetividade passariam a serem incorporadas em lugares onde as provas de corridas e os treinos você costumam ser realizados.
Tais experiências podem ser analisadas a nível individual e coletivo. As assessorias de corrida são grupos que auxiliam a compreender o aspecto do coletivo do ato de correr. Constituídas por profissionais especializados para treinar os atletas, oferecendo suporte físico, profissional, e psicológico àqueles que desejam ingressar nas corridas ou àqueles que desejam aprimoramento ou ingresso em novas modalidades, como o triathlon. Retoma-se a ideia de coletividade, já que se trata de ponto fortemente presente no discurso dos iniciantes. O incentivo para manter a prática, o fato de correr com outras pessoas que apoiam são aspectos mencionados. Em alguns casos, a assessoria ainda é concebida como um importante espaço de biossociabilidade ao se tratar de uma forma de estruturas relações a partir de critérios de mérito e reconhecimento fundados em regras ligadas a práticas de autovigilância fisiológica, regimes de ocupação do tempo e ideias de performance física (RABINOW, 1999).
A pesquisa é baseada numa "participação observante" (WACQUANT, 2002) em Fortaleza, já que a pesquisadora também é uma corredora. O work de campo é realizado em uma assessoria da cidade, bem como nas principais corridas de rua. O material empírico será composto de as narrativas dos próprios corredores de rua a fim de compreender suas relações com a capital cearense, além de notícias de revistas especializadas na temática. Através desses métodos que se constitui a tentativa de compreender a cidade pela ótica dos corredores, deslocando assim o olhar da cidade para as pessoas que vivem, sentem e “fazem a cidade” por esse esporte.
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Disposições, motivações e perfil socioeconômico: uma análise comparativa das Torcidas Organizadas Cearamor e TUF Autoria: Artur Alves de Vasconcelos Autoria: As Torcidas Organizadas (TO) de futebol são grupos que se mobilizam de maneira específica para apoiar seu time nas arquibancadas. Eles têm nome próprio, mascotes, uniformes, bandeiras, faixas, músicas, lemas, dentre outros materiais que os distinguem dos demais aficionados.
São em geral compostas por adolescentes e jovens. Tomando o contexto cearense, boa parte vem de contextos de pobreza e são estigmatizados (Goffman) como “violentos” ou “perigosos”. O ambiente no interior da TO, por outro lado, é o espaço onde os estigmas negativos são substituídos por imagens positivas de coletividade e amizades. É também um ambiente que forma certos capitais (Bourdieu) que contribuem na construção de um modelo de masculinidade e de identidade ligados à virilidade, energia e violência (Diógenes).
O objetivo deste work é comparar integrantes das duas maiores TO cearenses (Cearamor e TUF), procurando o que esses rivais têm de semelhante e de distinto. Para isso, elencamos dados como o perfil socioeconômico, disposições, motivações, práticas e visões sobre o universo das TO.
Aplicamos questionário com 252 torcedores/as. Esse levantamento fez parte da disciplina Sociologia do Esporte, ministrada pelo prof. Domingos Abreu no Depto. de Ciências Sociais da UFC em 2015. Os questionários foram aplicados pelos/as alunos/as da disciplina, professor e voluntários.
Analisamos aqui algumas das respostas, abordando temas como: idade; escolaridade; bairro de moradia; renda familiar; quando começou a torcer para o time; quem estimulou a isso; quando ingressou na torcida; se está disposto a brigar; se acha que as torcidas são pacíficas ou briguentas, dentre outros. Algumas respostas foram observadas sob a variável “sexo”.
Constatou-se que Cearamor e TUF trazem perfil social semelhante: estão na faixa de 21 a 23 anos; grau de escolaridade inferior ao que a idade possibilita; renda familiar não ultrapassa três salários-mínimos; vêm de bairros com IDH baixo ou muito baixo.
Componentes das duas torcidas afirmaram pouca “disposição a brigar”. Entretanto, cerca de 30% em cada uma admitiu estar sim muito disposto a isso. Mulheres e homens têm disposição semelhante. Os jovens da Cearamor defendem que sua torcida não é briguenta; já os da TUF “admitem” que sua TO seria briguenta.
Começaram a torcer pelo time ainda na infância, por influência familiar. Isso é verdadeiro para homens e mulheres, embora mais forte entre eles. A respeito do ingresso na TO, em ambas as torcidas isso aconteceu sobretudo na adolescência, algo ainda mais frequente entre as mulheres.
Os integrantes de Cearamor e TUF são bastante semelhantes. Sua condição econômica e social, suas motivações, disposições e visões sobre o universo das torcidas são muito próximas. Metaforicamente, são dois lados da mesma moeda.
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Emoções em Campo: análises sobre as sociabilidades dos integrantes da Força Jovem do Vasco em treinos abertos no Estádio de São Januário. Autoria: Elisa Silveira Cardoso Autoria: Após o processo histórico, político e social da popularização e massificação do futebol e o intenso investimento nas construções de estádios e arenas esportivas durante a Era Vargas, as formas de torcer nos territórios cariocas vem, ao longo das décadas, passando por mudanças. As condutas e formas de torcer, que eram expressas pelos ritmos carnavalescos, acompanhados de adereços, alegorias e canções apaixonadamente entoadas ao clube, passaram por uma virada social, emocional e política significativa. O espetáculo futebolístico tornou-se ainda maior ao chegar nos morros e favelas do Rio, projetando um novo pertencimento nacional. Foi na década de 40 que as torcidas uniformizadas (organizadas) se tornaram reconhecidas pelas emissoras de rádio. Devido às inovadoras formas de se vestir, representar os respectivos times e compor as arquibancadas, as sociabilidades e as emoções podem ser analisadas através dos rituais, dos gestos e das práticas, exercidas em um grau de mobilização imensurável por esses torcedores organizados. A presente pesquisa pretende analisar o efeito das emoções na produção de subjetividades e sociabilidades de torcedores organizados da Força Jovem em dias de treinos dos jogadores profissionais do Clube de Regatas Vasco da Gama no Rio de Janeiro. Partindo de dados construídos através de work de campo observaremos que esses torcedores informam uma gramática emocional que se expressa em ações coletivas, vivenciadas através de contextos particulares. Propomos abordar diversas práticas e representações que envolvem as exposições e utilizações dos “materiais”. Correlativamente, também pretende-se abordar as linguagens corporais e discursivas utilizadas entre os torcedores organizados e torcedores normais; e os gritos de guerra e as cobranças aos jogadores pela atual fase no Campeonato Brasileiro 2018. Finalmente, exploraremos algumas categorias elaboradas por estes integrantes, assim como as formas de produções emocionais e sua relação com as condições sensíveis, éticas, políticas e morais, construídas coletivamente e individualmente nesse grupo de torcedores organizados.
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Novas exigências nas trajetórias dos jogadores de futebol de sucesso no Brasil Autoria: Simoni Lahud Guedes Autoria: Desde a década de 1970, venho trabalhando com questões relativas à identidade nacional brasileira tal como é reconstruída periodicamente através das Copas do Mundo de Futebol. Tal como outras competições esportivas internacionais que, no decorrer do século XX, transformaram-se em arenas para elaborações identitárias, as Copas do Mundo assumiram, no caso brasileiro, um lugar privilegiado nesse processo. Assim, até 1998, era possível perceber que a seleção brasileira era compreendida, simultaneamente, como metáfora e metonímia do "povo brasileiro", permitindo inúmeras afirmações, positivas e negativas sobre o ser brasileiro. Entretanto, mudanças significativas podem ser percebidas desde a Copa de 1998, ocorrida na França e que se consolidaram na última copa do mundo, ocorrida na Rússia neste ano de 2018.
Em função da extrema mercantilização de tudo que cerca o futebol, com o enriquecimento enorme dos jogadores de primeiro escalão, é possível apontar, através de diversos indícios, diferença muito relevantes nos significados da seleção brasileira masculina de futebol bem como na representatividade dos jogadores, podendo-se até falar numa ruptura da equação seleção brasileira= povo brasileiro. Argumento ainda que, em função desta mudança, novas exigências são feitas aos jogadores profissionais que atuam na seleção brasileira de futebol, tanto em seu período de atividade quanto após o encerramento de suas carreiras.
Nesta apresentação, busco discutir e contextualizar estas mudanças, considerando o enorme crescimento econômico global do futebol nas últimas décadas do século XX. Discuto também as novas exigências apresentadas aos jogadores do time nacional.
E pergunto: neste novo contexto, é possível diagnosticar uma fratura no potencial de representação da seleção brasileira de futebol? Serão ainda os jogadores do selecionado nacional interpretados como heróis ou vilões nacionais?
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O corpo fragmentado na prática da musculação e da natação Autoria: Edyr Batista de Oliveira Júnior Autoria: Este artigo objetiva refletir acerca do work corporal que é realizado de forma fragmentado por agentes sociais masculinos em academias de musculação e aulas de natação. Para isso, utilizo dados de uma pesquisa etnográfica que empreendi de março de 2013 a dezembro de 2014 em três espaços de transmudação corpórea de Belém do Pará, Brasil, e de setembro de 2015 a fevereiro de 2016 em um ginásio da cidade Lisboa, Portugal. A etnografia pautou-se na observação participante, conversas informais e formais, sendo estas realizadas com um total de treze alunos e nove professores/as de ambos os lugares. Assim, procuro apresentar as aproximações e os distanciamentos entre a percepção dos/as professores/as e dos alunos a respeito das partes do corpo que os homens mais procuram exercitar. Demonstro, ainda, que a preferência de se treinar determinadas áreas da compleição física não difere quando ponderamos os ambientes da musculação e da natação; também, negociações e reelaborações são feitas entre os alunos e os/as professores/as, considerando os grupos musculares que aqueles preferencialmente buscam desenvolver e que questões de gênero, sexualidade e geração, igualmente, transversalizam a temática foco desta reflexão.
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O futebol e o poder público: interferências e intervenções não dialogadas em dias de jogos do Botafogo-PB Autoria: Phelipe Caldas Pontes Carvalho Autoria: Em minha pesquisa de mestrado eu venho analisando como um estádio de futebol, ainda que muitas vezes ocupado por torcedores de um mesmo clube, acaba permeado por uma série de fronteiras e territórios, que delimitam múltiplas identidades que as vezes são até mesmo rivais e antagônicas. Pegando como exemplo o Botafogo da Paraíba, foco de meus estudos, cada uma das diferentes torcidas organizadas e cada um dos grupos de torcedores dentro do Estádio Almeidão possui diferentes dinâmicas, diferentes comportamentos e diferentes posturas; e, no mesmo sentido, diferentes visões e julgamentos sobre o outro. Ainda dentro desta perspectiva, pretendo, contudo, propor para este Grupo de work um recorte específico, e assim analisar como se dão as tentativas de regulações do poder público diante desses diversos grupos, e como este mesmo poder público tem reações distintas a depender do grupo em questão (a depender de classe econômica, se é ou não de torcida organizada, etc.). A partir de pesquisas etnográficas realizadas ao longo de quase dois anos, pretendo discutir como o Ministério Público do Estado, por exemplo, desconsidera os valores simbólicos e afetivos dos espaços quando transformados em territórios ou em lugares, e tenta definir por decreto, sem diálogos ou mesmo qualquer tipo de sensibilidade, onde cada torcer deve obrigatoriamente se posicionar e se fixar, muitas vezes provocando deslocamentos que têm consequências danosas para os respectivos grupos de torcedores. Da mesma forma, a partir de um debate proposto principalmente por Michel Agier (mas também por uma série de outros autores), sobre como as fronteiras e as alteridades são importantes para a definição das identidades, pretendo refletir ainda sobre como a decisão cada vez mais frequente do Ministério Público em fazer pressão pró-torcida única nos estádios em dias de jogos, pelo menos no caso pesquisado da Paraíba, se apresenta ao longo dos tempos como maléfica ao futebol, aos clubes, aos próprios torcedores de diferentes equipes. A proposta deste work, pois, é mostrar como as intervenções do poder público no futebol paraibano, ainda que realizado sob o discurso recorrente da segurança e da melhor comodidade do torcedor, acaba por interferir negativamente neste mesmo torcedor, uma vez que são decisões que são tomadas com base muitas vezes em preconceitos e estereótipos e que quase nunca pesam de fato os próprios interesses desses torcedores como grupos sociais.
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O jogo da homofobia? Táticas e xingamentos nas Torcidas Organizadas do Ceará Sporting Club Autoria: Joaquim Sobreira Filho, Glória Maria dos Santos Diógenes Autoria: O presente work consiste numa pesquisa realizada junto a grupos de
torcedores organizados da agremiação futebolística do Ceará Sporting Club, clube de
futebol que tem sua sede na cidade de Fortaleza, cujas torcidas pesquisadas são sediadas
na mesma cidade, no período de 2016 a 2018. O work consiste numa análise de
performances de masculinidades desses torcedores organizados dentro do ambiente
futebolístico. Sendo assim, esta investigação de caráter socioantropológico tem como
objetivo compreender como são experimentados os modos de fazer da performance
torcedora vivenciada em um campo notadamente masculino. Os objetivos específicos
deste estudo estão direcionados em lançar visões sobre como se estabelecem as
dinâmicas de xingamentos entre organizados neste espaço social, e como a categoria
homofobia é articulada dentro desses xingamentos. Através de um work de campo
que tem a sua base metodológica alicerçada em técnicas clássicas da pesquisa
qualitativa em ciências sociais, principalmente nas áreas da antropologia e sociologia,
como observação participante, entrevistas e a elaboração de diário de campo, este
estudo busca desenvolver uma descrição etnográfica sobre as percepções, práticas e
procedimentos cotidianos adotados por esses torcedores dentro desse espaço.
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O projeto familiar de ser jogador de futebol a partir de uma leitura Interseccional Autoria: Isabella Trindade Menezes Autoria: O objetivo deste artigo é analisar aspectos relacionados à formação de jogadores de futebol como um projeto familiar, que possui protagonismo de mulheres negras. Para tanto, utilizarei uma perspectiva interseccional para análise dos dados, ou seja, minha argumentação será baseada nos marcadores sociais de gênero, classe e raça. Tais escolhas partem do pressuposto de que estas são estruturas de subordinação que se reforçam e vêm sendo pouco abordadas nos estudos sobre futebol. Outrossim, compreendo a interseccionalidade como parte de um projeto de construção e nomeação, a partir da nomeação dos sujeitos e de formas de exclusão como partes constituintes de um cenário de realização de políticas e de reconhecer e construir direitos. Por isso, acredito que silenciamentos e invisibilidades cotidianas são formas de violência e opressão comuns em nossa sociedade. Cabe ainda ressaltar que compreendo a importância de trabalhar com esse eixo de análise, mas sem construir uma identidade uníssono ou cristalizada de mulheres negras, ou seja, compreendendo a complexidade das relações sociais engendradas na atualidade.
Como corpus de análise, elegi trechos de duas entrevistas realizadas com mulheres negras que atuam na manutenção do projeto de construção de um jogador de futebol, o uso de uma matéria do jornal sobre a seleção masculina de futebol e anotações de diário de campo de observações realizadas por mim no acompanhamento dos meninos e de suas famílias no campo, nas quais estão incluídas conversas informais com agentes de jogadores, pais, profissionais da área e outros agentes desse campo. A metodologia de pesquisa vem sendo construída a partir da etnografia, na qual busco a aproximação com as familiares, mulheres em geral, a partir desses contatos, faço o acompanhamento do desenvolvimento dos jogadores em formação em jornais e sites.
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O torcer de futebol em bar de Londrina Autoria: Clayton Denis Alino da Silva Autoria: O futebol é, segundo o antropólogo Roberto da Matta (op.cit.), um fato social total, em que se posicionam a estrutura e a hierarquia da sociedade brasileira e que se tornou em um dos mitos da fundação de uma identidade nacional e de representações sociais do que é ser brasileiro. Da Matta (1986:18), ainda, define que ser brasileiro é ser “amante do futebol, da música popular, do carnaval, da comida misturada, dos amigos e dos parentes, dos santos e orixás”, usando, para o autor, uma formula que lhe foi fornecida pelo próprio Brasil. Édson Gastaldo (2002), considera o futebol como parte de um ethos brasileiro, usando de empréstimo a relação estabelecida por Geertz entre a rinha de galo e a sociedade balinesa. Giulianotti (2010) ainda considera que o futebol remodela as relações de poder, significados, discursos e modelos estéticos de dentro das sociedades que está inserido.
Além da identidade nacional, devemos levar em consideração que outras formas representação identitárias e de pertencimento que emanam dos processos sociais e culturais que se dispõe do futebol, já que este transborda outras inquietações a partir do compartilhamento de experiências individuais e coletivas e, também, as tensões entre as diversas subjetividades existentes dentro do jogo, disposta numa dinâmica relação que desperta entre o torcedor com o torcer, adiante, explicada pela dicotomia entre o “nós” e os “eles”, explicitando uma interação com o inimigo, o torcedor time rival.
O torcer é a ação simbólica fundamental que une o esporte aos seus torcedores, em um espaço que se dá para além da prática do esporte – ação dos jogadores –, mas da própria relação entre os torceres e de interação que se dá por através do futebol, que refletem nos torcedores, principalmente, enquanto identidades, performances corporais, rituais de sorte, dramas, consumos, entre outros. O torcer mobiliza milhares de brasileiros aos estádios e bares para o consumo de futebol, e parte da identidade social de muitos brasileiros, para expressarem a si mesmo e sobre os outros, mas o torcer do futebol ainda é mais que o seu sistema de representação e mais que um processo afetivo, mas que se institucionaliza entre clube e torcedor. Segundo Toledo (2010), o torcer é uma adesão corpórea fora das linhas do jogo, é se contorcer e ler a partida com gestos, chutar junto com os torcedores, utilizando as duas principais armas: a fé e a vontade de sair vencedor.
O presente work busca por compreender o futebol por sua ação mais envolvida, atrelada às performatividade dos torcedores, por através de um olhar antropológico. Entendendo que o estudo do torcer do futebol é uma ferramenta para entender um pouco mais do complexo mundo cultural ao qual o futebol está inserido.
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Professores, cartolas e boleiros: agenciamentos Sateré-Mawé em olimpíadas e campeonatos de futebol indígena Autoria: Ana Letícia de Fiori Autoria: Esta comunicação descreve os movimentos de professores indígenas Sateré-Mawé por entre aldeias e cidades (Parintins e Barreirinha-AM) do Baixo Amazonas para a organização, realização e participação de festas com caráter esportivo: olimpíadas indígenas e campeonatos de futebol, analisados sob a chave da interculturalidade. Discutem-se os agenciamentos desses professores enquanto lideranças, responsáveis por movimentar a comunidade, tornando-a vívida e animada, e angariando pessoas e recursos de dentro e de fora da área indígena, movimento para torná-los também pessoas magnificadas. A escola é um locus central, mas não o único, para tais agenciamentos, por conta das conexões que permite com instituições públicas, empresários, políticos e outras "autoridades" locais, além dos próprios rendimentos dos professores, utilizados para o financiamento de fardas, bolas, alimentação, prêmios e o deslocamento das equipes (pelos rios e igarapés da região). A escola fornece certa gramática para estas festas, por meio de seu calendário; do manejo de ofícios, regulamentos dos campeonatos e outras formas de "assinatura do estado"; que podem tanto produzir consensos quanto acusações entre as equipes, em uma lógica algo análoga às acusações de feitiçaria. Pela escola também circulam práticas desportivas e protocolos incorporados a estas competições, como esportes "olímpicos" (corrida com obstáculos, arremesso de peso) e práticas cívicas, trazidas desde o paradigma da escolarização indígena para a assimilação e integração, mas transformadas pelas perspectivas indígenas em diferentes formas de fazer política e manejar alteridades. Os times de futebol, por sua vez, de formação mais perene que as equipes das competições olímpicas escolares, movimentam comunidades e movimentam-se por comunidades, acumulando um histórico de vitórias e derrotas, lances memoráveis e reputações para seus jogadores; marcam laços de amizade, aliança ou parentesco; e são grande assunto para conversas, mesmo à distância nas redes sociais (Facebook, Whatsapp) acessadas pelos "parentes" que estão nas cidades. Ambas as competições olímpicas e os campeonatos de futebol produzem corpos e estéticas em que se medeiam e manipulam potências indígenas e não-indígenas, seja pela decoração dos corpos com urucum, jenipapo, cocares e outros elementos que são avaliados enquanto "indígenas", pelo fardamento dos times e suas bandeiras tremulando pelos rios, pelas reuniões, conselhos e preleções das lideranças buscando consenso; pelo consumo benéfico de guaraná e alimentos benéficos ou o risco trazido pelas bebidas alcóolicas, um dos motivos pelos quais a conciliação e boas palavras das lideranças podem dar lugar a brigas e conflitos, trazendo à tona a semente da guerra que é o verso das festas indígenas.
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Reflexões antropológicas sobre os conceitos de jogo e esporte a partir dos Clubes de Jogo de Malha Autoria: Ingrid Ferreira Fonseca Autoria: A antropologia do esporte se dedica ao estudo de um fenômeno de imensa presença na nossa contemporaneidade. Neste contexto, de maneira geral, se estabeleceu a definição de esporte como atividade física competitiva, regrada e dinamizada por organizações oficiais esportivas. Entretanto, esta conceituação não contempla numerosas práticas que não se ajustam a tais características. Assim, a definição de esporte é um campo de disputas ainda não completamente acordadas. E a antropologia, diferentemente de outras áreas das ciências humanas e sociais, com seu cabedal teórico-metodológico, nos possibilita reflexões, muitas vezes comparativas dos campos etnográficos, sobre as representações, valores e normas que os interlocutores estudados produzem em suas vivências culturais. Dentro desta perspectiva, alguns dos dados construídos na minha tese de doutorado sob o título “Sociabilidades no Clube de Malha: perspectivas antropológicas sobre jogo, masculinidade e envelhecimento”, assim como a pesquisa desenvolvida por mim no IFRJ intitulada “Sociabilidade no Clube de Malha Mauá: significados atribuídos por jogadores de malha a sua prática esportiva” destacam o jogo de malha como uma atividade que se encontra em certa medida na fronteira entre os objetos em diálogo: o jogo e o esporte. Destarte, este work intenta apresentar o meu projeto de pós-doutorado cujo objetivo é ampliar este campo etnográfico, trazendo questões para refletir os processos de esportivização vividos pelos diferentes jogos, pistas, clubes de malha na cidade de Volta Redonda. A partir da construção destes “novos” dados, centrar o foco na análise dos conceitos de jogo e esporte a partir de reflexões antropológicas mais contundentes sobre estes campos de ideias. Dentro deste escopo, os jogos de malha que acontecem na cidade de Volta Redonda, estado do Rio de Janeiro, foram escolhidos como locus do presente estudo, exatamente por serem os únicos dentro deste estado que estão vinculados a uma Liga Esportiva. Encontram-se reunidos na cidade em torno de 20 clubes de malha, sendo que somente 8 deles participam da Liga Sul Fluminense; os outros continuam praticando o jogo de malha, porém não necessariamente seguindo as regras estipuladas pela Liga. Como metodologia, o estudo apoia-se na etnografia utilizando-se da perspectiva de perto e de dentro. Essa opção se adequa aos estudos urbanos que possuem dificuldades de realizar a imersão total no campo, como é o meu caso. Moro na cidade de Niterói e o meu campo etnográfico fica em torno de 140 km de distância da minha residência. O propósito é estar presente nos finais de semana dos jogos da Liga Sul Fluminense de malha, acompanhar o time de Volta Redonda em campeonatos nacionais e ir visitar Clubes de malha que não participem da Liga Sul Fluminense.
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ROSA QUE NADA! ELAS VESTEM AZUL MARINHO: uma etnografia das relações de poder e gênero que envolvem as torcedoras do Clube do Remo Autoria: Aline Meriane do Carmo de Freitas, Fabiano de Souza Gontijo¹: Doutor em Antropologia Social na Ecole des Hautes Études en Sciences Sociales, EHESS, França. Professor na Universidade Federal do Pará (UFPA) no Programa de Autoria: Neste artigo proponho etnografar as sociabilidades das torcedoras do Clube do Remo objetivando verificar de que maneira a generificação e o futebol se entrelaçam, historicamente, formando um complexo a partir do qual as relações de poder se assentam, direcionando afetos, emoções e interações sociais quotidianamente. Acredito que a análise dos processos socioculturais intersubjetivos com o objetivo de compreender como se configuram as relações de vigilância, controle e regulação entre as torcedoras do setor feminino da Camisa 33 - a torcida Barra Brava do Remo – no que tange a produção de discursos sobre a fidelidade clubística (Damo, 2005) por meio da oposição binária entre Remismo e mistas. Os termos nativos são utilizados como dispositivos de poder para classificar (Lévi-Strauss, 1989) as torcedoras que têm o Remo como único time, bem como, as remistas que torcem para outros clubes. A arbitrariedade e inadequação dessas classificações são baseadas em uma hierarquização a qual divide as remistas entre mais ou menos torcedoras ou, ainda, “remistas de verdade” e “mulheres que entendem de futebol”, à medida que concordem com as regulações. A tentativa de controlar e vigiar o desejo das torcedoras, em vários episódios, punindo (FOUCAULT, 2002, 1993, 2010) quem discorda da regulação do grupo interno (SCHUTZ, 2012) nos possibilitou pensar esse sistema arbitrário de classificações definido pelo conselho da torcida, o qual é constituído majoritariamente por homens classe média, heterossexuais, jovens e universitários. Para fazê-lo, dialogo com um aporte teórico que possibilitará discutir gênero e marcadores sociais da diferença objetivando questionar desde o determinismo biológico sobre nascer mulher, bem como, a generificação enquanto categoria analítica: Beauvoir (2016), Butler (2003, 2011, 2016), hooks (2015) e Scott (1995), além de utilizar Geertz (2008) para etnografar densamente gênero, intersubjetividades, sociabilidades e relações de poder enquanto prática social do ser mulher-torcedora do Clube do Remo.
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Um ensaio sobre a materialização das percepções de força entre praticantes do esporte de escalada Autoria: Virgínia Squizani Rodrigues Autoria: Este work olha para as práticas corporais de pessoas praticantes do esporte de escalada em rocha a partir de uma perspectiva das técnicas corporais propostas por Marcel Mauss (2017), bem como o conceito de corporeidade proposto por Thomas Csordas (2008) e algumas inquietações provocadas pela leitura de Bodies that matter (2011) da filósofa Judith Butler e pela proposta da valência diferencial dos sexos de Françoise Héritier (1996).
Na primeira parte do work localizo algumas de minhas observações a fim de ilustrar a prática de escalada esportiva como fundo etnográfico para, em seguida, deliberar acerca dos modos como a percepção de força se materializa nos diferentes corpos, assim como por eles é materializada. Desejo, com a questão de uma técnica corporal que visa a maestria de uma combinação de força, resistência, concentração e equilíbrio, pensar o que a percepção de força corporal pode nos dizer sobre a materialização da valência diferencial dos sexos (HÉRITIER, 1996) em corpos das sociedades complexas.
É do senso comum ouvir que homens são “naturalmente” mais fortes que mulheres e que, portanto, são mais adeptos a atividades que demandam de força muscular. Até certo ponto, acredito que somos capazes de facilmente observar tal diferença e tomá-la como fato. Entretanto, acredito ser frutífero refletir sobre até que ponto um certo acúmulo de técnicas corporais desenvolvidas de modo diferencial desde a nossa infância não fez de corpos dados como masculinos, corpos de maior força anatômica e corpos dados como femininos, corpos menos fortes, pois menos expostos ao desenvolvimento de técnicas corporais anatômicas de força.
Inspirada no pensamento de Butler (2011) que elabora sobre a materialidade do sexo e denuncia os processos de ontologização deste e, consequentemente, o apagamento dos processos de construção das relações impregnadas de poder, procuro olhar para aquilo que é visto como natureza (neste caso em específico, a força anatômica do corpo), como algo que também é construído. Afinal, seria muito arriscado dizer que a percepção dos modos como diferentes técnicas corporais são aplicadas ao longo de nossas vidas, por vezes, são apagadas e, portanto ontologizadas a ponto de nos fazer crer que exista uma "força natural" do corpo masculino que inexistiria no corpo feminino? Neste work, esta e demais questões são pensadas através do esporte de escalada que se mostra como um excelente campo para pensar o corpo e, a partir deste, o estar e o operar no mundo.
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“A Regra é Clara”? Reflexão Sobre a Trajetória Profissional de Árbitros de Futebol Negros Autoria: João Cauê Benedeti Morales Autoria: O presente work, em elaboração, tem como tema a participação de pessoas negras no work da arbitragem de futebol. O ofício de árbitro, é um dos poucos em nível analítico dentro deste esporte nos quais profissionais negros e negras transitam com certa desinibição. Durante o jogo, os árbitros de futebol são as autoridades a serem respeitadas pelos jogadores e comissões técnicas presentes no evento. Se do ponto de vista do andamento do jogo esse poder incorporado pela figura da arbitragem é quase inquestionável, do ponto de vista do espetáculo, toda essa capacidade descamba para a vilania, pois é esta mesma figura e a sua suposta falta de bom senso em interpretar a regra que se torna um bode expiatório para torcedores, técnicos, dirigentes e imprensa justificarem o insucesso das equipes. A partir de uma concepção das lógicas do futebol (TOLEDO, 2000), configura-se uma posição ambígua deste profissional. Assim, o objetivo almejado é abordar as trajetórias profissionais de árbitros de futebol negros e negras no Rio Grande do Sul, na expectativa de compreender como diante desta ambiguidade, os profissionais da arbitragem lidam com o racismo em um ofício no qual, têm-se por hipótese, que a pecha da falta de inteligência para analisar (pensar) o jogo e suas decorrências recaia mais fortemente sobre profissionais negros(as). A perspectiva metodológica pretendida é a da história de vida de alguns desses trabalhadores, bem como a observação de cursos de qualificação. Desde um aporte dos estudos pós-coloniais (CÉSAIRE, 1978; FANON, 2008; MBEMBE, 2018), busca-se versar sobre os apagamentos e efeitos perversos produzidos por certas concepções do conhecimento e problematizar a legitimidade de determinados sujeitos/corpos nos momentos de pôr em voga tais concepções.
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“É coisa de maluco!”: construção de corporalidade e a noção de pessoa em ultramaratonas Autoria: Cilene Lima de Oliveira Autoria: O objetivo deste work é apresentar algumas questões em relação à construção das corporalidades por atletas de ultramaratonas (provas de corridas com quilometragens superiores às maratonas, isto é, acima de 42 km e 195m). Mais especificamente, pretendo refletir a respeito da categoria nativa “malucos”. Para isso, farei uma interlocução com os estudos sociais do esporte e ao que se convencionou chamar de “Antropologia da Saúde”. Aparecerão, portanto, pralém dos textos fundantes da antropologia dos esportes, interpretações teóricas debruçadas nos works de Luiz Fernando Dias Duarte (1986, 1998) e Michel Focault (1978). Neste sentido, a reflexão parte do que os interlocutores significam em torno da dicotomia corpo e mente, uma vez que, segundo o grupo estudado, “é tudo uma questão de cabeça”. Procuro compreender essas questões considerando como o campo esportivo das ultramaratonas se relaciona, por meio destes discursos, com os saberes biomédicos, responsáveis por construções diferentes do que se entende pelo termo “malucos”. Isto é importante dizer, uma vez que, embora o campo esportivo em questão seja composto por atores dos setores biomédicos, como fisioterapeutas, professores de educação física e médicos fisiologistas, por exemplo, a categoria aqui apresentada parece não se comunicar com os significados relacionados às “doenças mentais”, que constituem na cultura ocidental moderna, uma relação direta com a psicologização, biomedicalização, e/ou outros termos que levem em conta uma biologização do tema. Com isso não se pretende dizer que a construção desta categoria nativa não esteja permeada por estes saberes, mas que aponta para novas formulações. Assim, torna-se presente, também, neste texto uma consideração sobre a construção da noção de pessoa e da experiência.
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“Melhor ter ela a favor do que contra”: inserção e reconhecimento de mulheres transexuais e/ou travestis em times feminino de voleibol de alto rendimento em Campo Grande (MS) Autoria: Andrey Monteiro Borges, Tiago Duque Autoria: Resumo: este artigo busca analisar possibilidades de inserção e reconhecimento de mulheres transexuais e/ou travestis que jogam em times femininos de voleibol de alto rendimento na cidade de Campo Grande, capital de Mato Grosso do Sul. Para isso, é levado em consideração também a cena brasileira, devido a influência midiática de casos envolvendo campeonatos nacionais. O método de pesquisa utilizado foi a etnografia off-line (AMARAL, NATAL, VIANA, 2008) e on-line (MISKOLCI, 2011). No ambiente off-line, a observação participante se deu a partir de um campeonato local, envolvendo entrevistas semiestruturadas com duas interlocutoras. No que se refere ao ambiente on-line, foi desenvolvido work de campo em jornais e nas redes sociais. Entendendo que esses ambientes off-line e on-line se retroalimentam, buscamos problematizar quais são os poderes/saberes (FOUCAULT, 2008) que legitimam, ou não, essa inserção das jogadoras transexuais em Campo Grande. Assim como, percebemos o quanto a categoria travesti deixa de ser usada no contexto do vôlei de alto rendimento, mas não necessariamente é abandonada pelas interlocutoras, pois, em certa medida, essas identidades raramente são construídas de forma centrada em categorias fixas e permanentes (VENCATO, 2003). Os dados apontam para o quanto essas jogadoras transexuais e/ou travestis têm sido vistas não apenas como ameaças possíveis à ordem de uma matriz de integibilidade/reconhecimento de gênero (BUTLER, 2013), mas, a partir do momento em que elas estão inseridas em quadra, também começam a fazer parte da estratégia de jogo do time em busca da vitória. Por mais que essas mulheres transexuais sejam legalmente reconhecidas como tal, há um antes “homem” que não é esquecido, pelo contrário, é constantemente lembrado. A existência do órgão genital masculino em um corpo passável enquanto feminino (DUQUE, 2017) as alocam em um lugar de abjeção (BUTLER, 2018), mas também de suposta virilidade, o que se torna, na lógica local, um fator decisivo para uma possível superioridade em quadra. Isto é, o corpo da mulher transexual é visto como um corpo capaz de anular ou diminuir todo o treinamento e práticas de jogo de mulheres não transexuais, por isso ela é vista, em alguns casos, disputadas pelos times. Neste sentido há uma possibilidade de inserção e reconhecimento, algo que poderíamos chamar de “reconhecimento tático e estratégico de jogo” que vai além de uma possível visibilidade trans positiva. Existe, dentro da lógica de inteligibilidade do sistema esportivo, uma maneira de inserção dessas transexuais nos time que as contrataram visando benefícios para o grupo, mas que não necessariamente as reconhece como mulheres.
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