Cinque Terre
MR 013. Estudos recentes sobre música indígena em diálogos comparativos
Deise Lucy Oliveira Montardo (Universidade Federal do Amazonas) - Coordenador/a, Sonia Regina Lourenço (Universidade Federal de Mato Grosso) - Participante, Odair Giraldin (UNIVERSIDADE FEDERAL DO TOCANTINS) - Participante, Maria Eugenia Dominguez (UFSC) - Participante
Os Estudos sobre musica indígena tem aumentando em número e abordagens temáticas nas últimas três décadas. Esta mesa reúne alguns pesquisadores que tem desenvolvido trabalhos sobre música indígena em regiões etnograficamente diversas das terras baixas da América do Sul. Pesquisas estas que estão inseridas na rede do INCT Brasil Plural, um programa de pesquisas feitas sob o viés antropológico e que, quando cotejadas tem um grande potencial comparativo. Maria Eugênia Dominguez (UFSC) apresentará seu trabalho sobre sons, audição e conhecimento entre os flauteros guarani e chané do oeste do Chaco desenvolvendo uma discussão sobre os tópicos ritual e história indígena; deslocamentos, música e lugar. Sonia Lourenço (UFMT) trará aspectos de pesquisas recentes que desenvolve com os estudantes indígenas Kurâ-Balairi, Manoki e Trumai-Kayabi, nos eixos ritual, música, flauta e políticas ameríndias, destacando os regimes rituais musicais. Odair Giraldin (UFT) falará sobre os  “gêneros vocais” nos Apinaje, numa abordagem que está construindo em parceira com dois professores Apinaje. Além dos temas já mencionados, a mesa colocará em debate a prática de pesquisa colaborativa que vem sendo desenvolvida com e entre os pesquisadores indígenas, nos cursos de graduação, de licenciatura e de pós-graduação.
Resumos submetidos
Gêneros vocais Apinaje
Autoria: Odair Giraldin
Autoria: Há, nos Apinaje, os seguintes gêneros vocais: a) discursivos: jarenh, as narrativas; kaper, oratórias formais, realizadas durante reuniões no pátio ou em ocasiões publicas. b) musicais: õkrepôx, cantos sequenciados e com tempos e momentos específicos para serem executados no pátio ou na rua radial em torno da aldeia; õkrepôx mex, cantos não sequenciados para serem executados no pátio para fins de diversão. Dentro do gênero musical, há cantos específicos para serem executados em momentos rituais, como pàrkapê e meõkrepôxrunhti (ambas como festas de finalização de luto). Existem ainda cantos ligados a determinados nomes (hixi hã grer). Há também o gênero vocal c) me amnhi, com força xamânica e também os d) choros rituais (myr). Nestes, há o me myr mã apri (choros de lamentação com alto teor de tristeza e lágrimas) e o me myr mã kati (choros de lamentação cantados e sem lágrimas).
Música, ritual e políticas ameríndias
Autoria: Sonia Regina Lourenço
Autoria: A comunicação versa sobre os rituais musicais ameríndios Kurâ-Bakairi, Manoki e Trumai-Kayabi(Kawaiweté). Descrevo os rituais em sua estrutura de sistemas, organizados em torno dos planos musical, político e mito-cosmológico em que a música, instrumental e voco-sonora, atua na criação e recriação da socialidade, assegurando a continuidade da existência de seres humanos e não-humanos, a saúde e o bem viver dos povos da floresta nas fronteiras da alteridade e na defesa de direitos e dos territórios indígenas. Os povos Manoki, Kurâ-Bakairi, os Trumai e Kayabi, são habitantes imemoriais do estado de Mato Grosso e Pará. Apresento o ritual das flautas Yetá, o surgimento e a centralidade delas na cosmopolítica Manoki; mostro a complexidade das Tadâwan, as flautas Kurâ-Bakairi executadas em alguns rituais; e os saberes xamânicos das mulheres, o ritual Jowosi Kayabi e o Tawarawanã Trumai.
Música andina entre os guarani do Chaco?
Autoria: Maria Eugenia Dominguez
Autoria: Os povos guarani falantes foram muitas vezes tratados como uma unidade cultural. Porém, nos últimos anos, algumas pesquisas apontaram para os contrastes existentes entre os guarani orientais e ocidentais. Esta apresentação trata do conhecimento musical de alguns povos guarani falantes que vivem ao oeste do Rio Paraguai. Referiremos à música de flautas do ritual arete guasu celebrado anualmente no sudeste da Bolívia, no noroeste da Argentina e no oeste do Paraguai. A descrição remete a diferentes planos dessa tradição: a preparação dos instrumentos, as formas de execução, as concepções sobre as origens da música e sobre as fontes do conhecimento para ser um bom instrumentista. Mostramos que na música chané e guarani do Chaco ressoam características andinas, nos colocando frente a mais um caso a desafiar a separação estabelecida entre terras baixas e altas na etnologia sul-americana.