Cinque Terre
MR 002. A emergência da vida na antropologia: relações com a técnica, a biologia e os STS
Carlos Emanuel Sautchuk (Universidade de Brasilia) - Coordenador/a, Marianne Lien (Universidade de Oslo) - Participante, Perig Pitrou (CNRS e EHESS - França) - Participante, Stelio Marras (IEB - USP) - Participante, Carlos Emanuel Sautchuk (Universidade de Brasilia) - Debatedor/a
A vida e outros termos associados têm recebido cada vez mais centralidade da antropologia desde a virada do século, sinalizando o intento de ampliar ou transpor de forma sistemática suas fronteiras disciplinares. Tal fenômeno é observável tanto no plano dos recentes investimentos etnográficos (dos micróbios às domesticações, passando pela nova genética), quanto na forma de proposições de alternativas conceituais visando contornar os dilemas da oposição natureza e cultura e a segregação epistemológica entre ciências da vida e ciências sociais. Este movimento duplo - novos temas etnográficos e novos conceitos antropológicos - tem mobilizado sobretudo as zonas de interface da antropologia com outros campos, a exemplo das próprias vertentes da biologia (ecologia, etologia, semiótica etc.), dos estudos sobre ciência e tecnologia, da psicologia ecológica e das perspectivas antropológicas sobre a técnica, dentre outros. Há neste movimento ao menos dois tipos de questões fundamentais. A primeira se refere a como incorporar ao fazer antropológico métodos e conceitos oriundos de outras tradições de pensamento; o segundo são os impactos disto para a própria concepção do que é o humano e, portanto, dos contornos, preceitos e modos de fazer da antropologia. Esta mesa pretende investigar diversas facetas deste movimento recente e significativo na antropologia, buscando discutir sobre sua diversidade, potencialidade e limites.
Resumos submetidos
A espreita animal
Autoria: Stelio Marras
Autoria: “Se me perguntassem o que é um animal, eu responderia: é o ser à espreita, um ser fundamentalmente à espreita”, diz Gilles Deleuze quando incitado a dissertar sobre o animal em seu Abecedário. Definir o animal pela postura da espreita parece, à primeira vista e para dizer o menos, definição nada ortodoxa e, por isso, algo vaga e pouco compreensível. Contudo, nem bem naturalista e nem bem animista, mas talvez na transversal desses modos de identificação, a aposta aqui é a de que tal definição se esclarece, ganha corpo e pertinência quando agora a vida emerge no centro das preocupações de certa antropologia contemporânea. Esta comunicação propõe-se a meditarsobre essa definição apenas aparentemente obscura e busca daí extrair consequências diante dos constrangimentos ecológicos e civilizacionais da atualidade.
When STS meet Amerindian Ethnology. The Definition of Life From the Standpoint of the Anthropology of Technique
Autoria: Perig Pitrou
Autoria: Research done in the field of STS has shown that cultural contexts play an important role in humans’ outlook on life and to their relationships to the living. But until now there has been an insufficient effort to articulate this field with the growing number of ethnological works which investigate understandings of life found in traditional societies. My presentation proposes showing how the ethnology of Amerindian societies can contribute to the definition of life. While engaging comparisons between Amerindian societies, the goal is to shed light on understandings of life associated with biotechnologies. The aim is then to explore the complexity of what life is through investigations into the diversity of technologies, traditional and modern, that humans invent to interact with living beings.