Cinque Terre
GT 062. Ritmos da Identidade: Música, Juventude e Identidade
João Batista de Jesus Felix (UFT) - Coordenador/a, Carlos Benedito Rodrigues da Silva (Universidade Federal do Maranhão) - Coordenador/a
Socialização e discussão de pesquisas concluídas ou em andamento, enfocando a música e ritmos como elementos de mobilização coletiva, e definição de linguagens e códigos de comunicação: enfoques sobre construção de performances e linguagens corporais entre grupos de juventude nas diversas regiões brasileiras ou mesmo em outros países, a partir das tendências rítmicas veiculadas pelos sistemas midiáticos. Estamos diante um fenômeno bastante interessante, pois, é cada vez maior as expressões artísticas, que eram assumidas como simplesmente formas de lazer, serem assumidas como formas de se expor posições políticas. A arte sempre foi vista como muito perigosa, principalmente pelos governos autoritários, mas ela era entendida como uma extensão, uma maneira a mais dos órgãos especializados em políticas (Partidos Políticos principalmente) tinham para demonstrar suas posições. Atualmente existem vários trabalhos acadêmicos que procuram demonstrar que a música, a dança, o cinema, o teatro, têm uma grande autonomia política. Nossa intenção, com instituição deste GT, é dar espaço para conhecermos pesquisas desenvolvidas em todo o território nacional ou estrangeiros, sobre formas de se construir identidades através da música, da dança e do lazer.
Resumos submetidos
'Enviadescer' o queer: explorando a decolonialidade da teoria à luz de Linn da Quebrada
Autoria: Higor Kleizer de Oliveira Moreira
Autoria: Aflorada ao final da década de 1980 e inicio de 1990, a teoria queer emerge no Norte Global, com as formulações de Teresa de Laurentis e Judith Butler inspiradas pelos Estudos Culturais norte-americanos e pelo Pós-estruturalismo francês, revelando novas possibilidades de (re)pensar os estudos sobre sexualidades e gêneros. O desponte desta teoria se dá, principalmente, como crítica aos estudos sobre as dissidências sexuais produzidos na época que as analisavam partindo da heterossexualidade e cisgeneridade enquanto sinônimo da ordem e normalidade social. Como todas as teorias produzidas ao norte, a teoria queer, com suas novidades e deslumbramentos, viaja ao redor do globo e chega ao Brasil tal como outros lugares do Sul e não-Ocidente. Aquelas/es que se propõem a pensar o queer no Brasil apontam que a sua chegada ao país se diverge da forma como a teoria surge nos Estados Unidos (PELUCIO, 2014a; PEREIRA, 2012). Enquanto na América do Norte o queer emerge dos movimentos sociais e posteriormente é teorizado, em terras tupiniquins a dinâmica é inversa: a teoria é inicialmente incorporada pela Academia – que passa a aplica-la como universal – e apenas depois é absorvida, em partes, pelos movimentos sociais que mais a recusam do que a cooptam. Os esforços destas/es pensadoras/es mostram a necessidade de recuperar os preceitos da teoria queer e deixar que esta, quando no Brasil aporta, deixe-se afetar pelas experiências outras aqui existentes produzindo, assim, novas ontologias que demonstrem de fato os corpos transviados que habitam o sul do Equador. O presente work, se aproximando das reflexões para decolonialidade do queer no Brasil, tem como objetivo tecer notas exploratórias sobre como tem se pensado e como se devia pensar a teoria no país a partir da cantora transativista Linn da Quebrada. Pautando-se nessas produções teóricas de pensadoras/es brasileiras/os que levantam críticas à maneira como a teoria foi incorporada no país, o work busca analisar as letras de "Enviadescer", "A Lenda", "Mulher" e algumas entrevistas de Linn para evidenciar a potência desta artista em fornecer novas perspectivas e categorias que atendam aos pressupostos do queer decolonial no Brasil: ressignificar, dar vida e voz às (r)existências plurais, de corporalidades inimagináveis que subvertem diariamente as normativas, construindo o enfrentamento epistemológico a partir das experiências concretas e não, ao contrário, forçando a experiência a se encaixar nas formas teóricas e conceituais importadas.
A busca por espaços para a consagração entre DJ de Fortaleza-CE.
Autoria: Rafael Silveira de Aguiar
Autoria:

A presente pesquisa trata sobre os processos de consagração e seus mecanismos de construção de diferenciação entre os DJs da cidade de Fortaleza (CE), especificamente no tocante ao espaço ou festa em que eles irão tocar. Partindo das reflexões de Bourdieu, as ações dos agentes no seu espaço social, indicados pelo habitus, criam uma luta simbólica por posições de prestígio através do acúmulo de capital simbólico dentro da cena. Através do resgate histórico de suas carreiras, é possível identificar que determinadas experiências podem alterar suas trajetórias enquanto artista ao ponto de se colocaram centrais. Propus-me a pensar os sujeitos e suas atribuições de sentido através das vivências e dos conhecimentos adquiridos que são necessários para se tornar consagrado, reconhecido e lembrado pelos demais. Com o uso de entrevistas com três agentes escolhidos através de pesquisas em notícias veiculadas em jornais, sites, revistas e blogs especializados, percebi que Fil, Fran Viana e Rodrigo Lobbão podem ser colocados como consagrados pelas suas respectivas carreiras. Tais veículos possuem o papel de nomear aqueles mais influentes na cena local. Com isso, como forma de articular os dados obtidos, pude identificar que os discursos dos DJs possuem elementos que vão além dos sinais visíveis ao olhar da Antropologia, especificamente sobre os prováveis indícios que ligam o sujeito a suas habilidades com a música. As entrevistas foram cruciais para identificar que a questão do dom pode ser uma característica decisiva para esses sujeitos atuarem como tal no seu espaço social seja expressa na sua habilidade de discotecagem, na combinação de diferentes músicas – unidas través das técnicas de mixagem – ou na produção de suas próprias faixas. Sendo assim, tais agentes estariam dentro de um movimento no qual buscam sentido e lugar no mundo, criando e recriando músicas, fazendo combinação entre elas, desfazendo os rótulos e suas funções previamente definidas por outros sujeitos. Além disso, foi percebido que a música eletrônica, portanto, é um universo infinito de possibilidades. O DJ nesse processo será fundamental na criação e recriações de músicas inacabadas, transformando seu espaço ao redor como potência para a criatividade.

A continuação do popular: os jovens do Afoxé Ará Omim e a questão da representatividade
Autoria: Gabriela Pimentel de Araújo
Autoria: Por cultura popular se faz possível compreender os costumes dos indivíduos que fazem parte da classe trabalhadora da sociedade, cuja principal característica é sua capacidade de ser compartilhada de uma geração para outra a partir da prática e da oralidade. É nesse contexto que podemos perceber que os mais novos aprendem com os mais velhos os ritmos e as manifestações culturais da tradição do grupo sociocultural do qual faz parte. No entanto, durante o processo de aprendizagem, observação e prática, esse mesmo jovem que enquanto criança reproduz o que lhe é ensinado, quando vai crescendo, amadurecendo e entrando em contato com outras experiências passa a questionar e até mesmo deixar de participar das principais manifestações e expressões culturais de seu povo/grupo sociocultural. Dito isto, surge o questionamento acerca da continuidade da prática da cultura popular, no sentido de se ela depende dos jovens e de seu processo de identificação e representatividade com a cultura da qual faz parte para continuar a existir ou não. A partir dessa problematização, o presente work pretende analisar as relações de pertencimento dos jovens com a cultura popular da qual faz parte e como se dão a construção de valores e manutenção da tradição apreendida. Resultando de entrevistas em campo com alguns integrantes do Afoxé Ará Omim, se faz possível identificar a existência de uma relação de pertencimento e valorização da prática de fazer parte de uma manifestação popular de matriz africana e assumir com orgulho o “fazer parte” como integrante desse grupo e continuador da cultura popular de sua comunidade.
A juventude sambadeira do Recôncavo Baiano: (re)construção de identidades através das práticas musicais do grupo de Samba de Roda Mirim Juventude do Iguape.
Autoria: Gabiel Almeida do Valle
Autoria:

O grupo de Samba de Roda Mirim Juventude do Iguape é formado por jovens da comunidade quilombola de Santiago do Iguape - distrito da cidade de Cachoeira, no Recôncavo Baiano - que têm no samba de roda um lugar de atuação. Impulsionada pelos (as) Mestres (as), conectada à novas tecnologias e alicerçada em políticas do patrimônio imaterial, a juventude sambadeira do Recôncavo Baiano desperta novas percepções etnográficas. Este work surge das minhas experiências como músico e pesquisador de iniciação científica, iniciadas em 2015, junto ao grupo de sambadores mirins de Santiago do Iguape, e que têm se desdobrado em ações diversas: desde o acompanhamento do grupo em apresentações, ensaios e reuniões; até parcerias na elaboração de oficinas e projetos culturais. Experiências de “pesquisa-ação-participativa” que impulsionaram a elaboração de um projeto de mestrado em etnomusicologia, que se encontra em fase inicial de execução. O samba de roda é uma manifestação cultural afro-brasileira que inter-relaciona sonoridades, territorialidades, ancestralidade e identidades através de práticas musicais coletivas. Marcante e fundamental para a região do Recôncavo Baiano esta prática tem passado ao longo do tempo por uma série de transformações. As variações e transformações no samba de roda estão ligadas a especificidades que não são exclusivamente musicais, sobretudo, estão ligadas a mudanças de caráter socioeconômico e cultural ocorridas ao longo do tempo em toda região do Recôncavo Baiano que impactam diretamente nas vidas de mestres (as) e jovens sambadores e sambadeiras, que também são trabalhadores (as), pescadores (as), marisqueiros (as), agricultores (as) e estudantes. O grupo de Samba de Roda Mirim Juventude do Iguape está entre os mais de dez grupos de sambas mirins criados a partir de 2010 e que se espalham por diversas cidades e localidades do Recôncavo Baiano, todos sobre os cuidados de mestres (as) do samba de roda e/ou agentes culturais socialmente engajados (as). O projeto de mestrado sugere um recorte que direciona os olhares investigativos da pesquisa para as (re) significações que a juventude sambadeira do Recôncavo tem proposto e vivido nos sambas de roda, nos quais quem “grita o samba” e dança o “miudinho” são os sambadores e sambadeiras mirins. Neste artigo destacarei os processos de (re) construção das identidades de uma juventude negra, rural e quilombola que transita entre as práticas musicais tradicionais do samba de roda e contextos culturais midiáticos contemporâneos; interações, mais ou menos conflituosas, que geram interessantes movimentações culturais e atuações políticas socialmente engajadas.

Fluxos de funk em Heliópolis - agência social dos paredões de som
Autoria: Paulo Menotti Del Picchia
Autoria: O presente work apresenta uma etnografia dos fluxos funk em Heliópolis, bairro da Zona Leste de São Paulo. A etnografia explorou a metodologia de pensar a vida social do bairro a partir da música funk e dos objetos encontrados na pesquisa de campo, relacionados a esse fazer musical, que informavam narrativas relevantes para o entendimento das agências sociais da música. Os objetos em questão são os diversos tipos de sistemas de som presentes nos fluxos de rua. Os sistemas de som se mostraram agentes sociais musicais fundamentais para o fluxo de funk acontecer, e dentre suas agências podemos destacar uma demarcação musical da periferia. Apresento também resultados de uma etnografia da Liga do Funk, associação cultural gestada em torno dessa prática musical, que atua realizando reuniões e encontros de conscientização e aprimoramento técnico para jovens que desejam seguir carreira no funk. Tanto a Liga quanto os fluxos de rua se apresentam como espaços onde o funk age na como definidor de identidades juvenis em São Paulo. Na Liga do Funk, vemos emergir ainda questões declaradamente políticas com muitos de seus membros participando de debates em torno de políticas públicas, em especial na área da cultura. O funk aparece na Liga como a "arte do gueto" e em diversas falas ele aparece como a música da "favela". Este artigo pretende dar visibilidade aos dados obtidos a partir de uma pesquisa de doutorado em curso. A etnografia foi realizada em Heliópolis, pelo fato de ser um bairro importante para os fluxos de rua e para a música funk na cidade. Os fluxos de rua são festas que acontecem em diversos pontos da cidade a partir da ativação de uma rede de sistemas de som de diversos tipos, dentre os quais destaco os chamados paredões de som e os sistemas de som automotivos. Esses sistemas de som operam em alto volume desafiando a chamada "lei do psiu" (lei que proíbe som alto em espaços públicos a partir das 22 horas da noite). São festas frequentadas predominantemente por jovens (a faixa etária varia entre 14 a 25 anos em sua maioria).
GORE GRIND: música extrema e política underground
Autoria: Evelyn Christine da Silva Matos
Autoria: O gore e o grind são gêneros musicais peculiarmente brutais que, típico ao mundo moderno e contemporâneo (Yúdice, 2006; Fridman, 2013; Beck et al., 1994), podem ser vistos em completude ou parceria estilística um ao outro ou se associar a outros estilos para formar uma cena e uma proposta musical composta. Os apontamentos e reflexões obtidas nesta perspectiva focal simulam a complexidade com que o underground se organiza, sendo observados aqui, sobretudo, a partir da realidade carioca. Não obstante, as situações enfrentadas e o contato com a arte, que “corporam” os estilos, supõem interações intercenas, fornecendo indícios de resoluções globais, ainda que afloradas em um dado tempo nos diferentes espaços. Este estudo, portanto, busca apreciar temas e problemáticas que situam o crossover goregrind, as quais seus adeptos têm se mostrados dispostos a debater em sua arte e em sua existência, tanto dentro da cena quanto nas outras esferas da vida social. Tem relevância porque pontua formas com que as identificações e identidades organizam, compreendem e refletem seus conteúdos, como elas entendem a qualificação de si - o estilo e os sujeitos - no mundo social. A literatura concorda que ao underground compete a proposta da alternatividade, onde o ritual e a inventividade são maneiras de vigorar a expressão coletiva (Abramo, 1994; Caiafa, 1985; Hebdige, 1979); também que a experimentação coletivada sobressai o sentido o qual a existência grupal se apoia, sua legitimação (Simmel, 2006; Becker, 2008; Hennion, 2011). Embebidos nisso, mais do que um som feito fora dos padrões mainstream, a cena extrema perspectiva acerca da competência filosófica do underground. As produções que derivam dessa perspectivação são suas ideias mais fundamentais exorcizadas, evidenciadas para si e para o mundo. O goregrind leva ao extremo a coisa do “exorcismo” e transmite a podridão, a espetacularidade e a monstruosidade dos temas com que lidam. É a forma que elegeram para dar vida à sua arte; é voz, expressão, ferramenta de coesão e argumento inteligível da rebeldia juvenil.
Hip Hop no bairro Mário Quintana em Porto Alegre: territorializando lutas!
Autoria: Diogo Raul Zanini
Autoria: Através da música, no caso o rap, muitos rappers territorializam os espaços que fazem parte de seus cotidianos. O ativismo no Movimento Hip Hop, à grosso modo, se mobiliza entre diversos territórios e seus agentes. A partir da experiência etnográfica apreendida no processo de produção de uma dissertação de mestrado em Antropologia, o presente work traz elementos para pensarmos as relações entre formação de identidades, a sua musicalização, problematização e perspectivas (projetos) para seus contextos. A etnografia foi realizada junto ao Movimento Hip Hop no bairro Mário Quintana em Porto Alegre/RS entre 2015 e 2016. Neste bairro, ativistas atualmente se colocam como movimento Hip Hop do bairro, e produzem eventos com grupos e rappers da região e de outras regiões e cidades com quem estabelecem relações. O Hip Hop, enquanto uma cultura diaspórica, nos mostra uma complexa rede que envolve ativismo social, cultural e político. Isso implica uma relação intensa e tensa com as políticas públicas de diversos segmentos, onde o pertencimento territorial e identitário muitas vezes se colocam de forma central.
Música e gênero no riot grrrl do Rio de Janeiro
Autoria: Patrick Monteiro do Nascimento Silva
Autoria: O movimento riot grrrl surgiu durante os anos 90 nos Estados Unidos na cidade de Olympia. Os principais objetivos do movimento eram questionar e denunciar as atitudes machistas no punk e hardcore, e incentivar mulheres a montar bandas. O work apresentado trata sobre o movimento riot grrrl no Rio de Janeiro da forma como ele é construído no contexto atual. A pesquisa foi desenvolvida ao longo de três anos, entre 2015 e 2018. Durante este período, foram feitas entrevistas, conversas informais, participação nos eventos e acompanhamento das mídias sociais das riot grrrls, bandas, selos e coletivos. Este texto aborda a questão do estilo e da estilização associadas às questões de gênero. Ou seja, como a maneira que elas percebem relações de gênero, bem como se posicionam politicamente frente a elas, contribuem para a construção de um estilo com o qual elas de identificam. O work trata sobre a história do riot grrrl, os contrastes com outros estilos, bem como a importância do gênero para a formação do estilo punk feminista.
Os nativos retrucam e a mulher do fim do mundo: a perspectiva pós-colonial nas músicas de Elza Soares
Autoria: Luísa Cerqueira Credi-Dio
Autoria: Este work trata sobre a perspectiva pós-colonial em quatro músicas dos dois últimos álbuns lançados pela cantora Elza Soares, “Mulher do fim do mundo” e “Maria de Vila Matilde” do disco “Mulher do fim do mundo” e as músicas “Exu nas escolas” e “O que se cala” do álbum “Deus é mulher”. De acordo com Grosfoguel (2013), a ciência ocidental e todas suas epistemologias foram consolidadas pela dominação de cinco países: Estados Unidos, França, Alemanha, Inglaterra e Itália, e a partir de quatro genocídios/epistemicídios ao longo do século XVI - contra a população judia e muçulmanas, contra os povos indígenas nas Américas, contra os povos africanos escravizados e contra as mulheres queimadas vivas na inquisição. Para ele, o “penso, logo existo” se deu a partir do “extermino, logo sou”. A discussão pós-colonial parte da premissa de que as categorias criadas pela academia ocidental não são universais e põe em questão a subalternidade em que alguns povos são submetidos por aqueles que se consideram de “primeiro mundo”, assim a perspectiva pós-colonial busca analisar as consequências do colonialismo e a contestar a hegemonia acadêmica de determinados países. Assim, procuro realizar neste work uma breve análise das músicas selecionadas da Elza Soares relacionando as composições com as discussões pós-coloniais, decoloniais e feministas; para tanto, foi utilizado referenciais teóricos de ambas as áreas, reportagens postadas em blogs e entrevistas com a cantora disponibilizadas no youtube. Como se trata de uma pesquisa de caráter exploratório, procuro fazer uma abordagem textual apontando alguns de seus pontos mais profusos. Em seus works Elza reivindica sua voz enquanto sujeito subalterno, se autorepresenta e toma a posição de uma narração através da agência ativa. Para Maria Lugones, “a transcendência da diferença colonial só pode ser feita a partir de uma perspectiva de subalternidade, de descolonização e, portanto, a partir de um novo terreno epistemológico onde o pensamento de fronteira é exercido” (apud Mignolo, 2000, p. 45). Dessa forma, Elza resiste às formas holísticas de explicação social para criação e ressignificação de seus próprios símbolos e signos fazendo da sua arte e sua existência uma forma de resistência política.
Pagode Baiano e Masculinidades Negras
Autoria: Gimerson Roque Prado Oliveira
Autoria: O artigo tem por finalidade reunir alguns dos estudos que se inserem dentro da grande área das Ciências Sociais e que procuram analisar a produção e representação de masculinidades negras dentro do estilo musical pagode baiano, os quais foram considerados relevantes durante levantamento dos referenciais de dissertação de mestrado intitulada “Pegada de Patrão” defendida em 2016. Os temas que dão corpo aos estudos que tomamos para revisão teórica concentram aspectos abordados na representação subjetiva do patrão: raça, consumo, sexualidade, juventude, performance, dentre outros. Os autores são: Osmundo Pinho (2005), no artigo “Etnografia do brau”; Ari Lima (2001) em sua tese sobre a “Experiência do Samba” na Bahia; Anderson Pena (2010) em dissertação onde o pagode é enxergado como legi-signos através da semiótica e Clebemilton Nascimento (2012) em sua dissertação/livro “Pagodes Baianos”. Nos works podemos converter à temática, ou capturar notas etnográficas que versam sobre a masculinidade negra de jovens moradores de bairros periféricos na cidade de Salvador, BA. Nesse sentido busco avançar na discussão e propor o surgimento de uma categoria que se apresentou no campo durante a etnografia da pesquisa realizada na cidade de Cachoeira, BA, o frenético.
Pre-ocupações culturais: agenciamentos coletivos e processos de identificação nos sertões do Pajeú
Autoria: Manoel Sotero Caio Netto, Marcelo Martins Passos
Autoria: Nos últimos dez anos notamos um aumento expressivo de projetos artísticos autorais nos sertões do Pajeú - Pernambuco. Essa movimentação regional construiu uma rotina de eventos, bem como produziu ocupações simbólicas de espaços nas cidades de Serra Talhada, Triunfo e Afogados da Ingazeira. As propostas de encontro, lazer e entretenimento também assumiram uma configuração política de caráter coletivo, pois nestes ambientes se consolidaram fóruns de debate sobre cidadania e reflexões sobre o fazer artístico independente. Estes acontecimentos dispersos ganharam outra coloração no ano de 2016, quando os coletivos locais se reuniram na cidade de Triunfo para garantir uma expressão intermunicipal com o nome de Mangaio. O Espaço Resistência, eBASTA! e Ambrosino Martins conformaram um agrupamento de espectro regional e essa sutura permitiu o compartilhamento de ideias, experiências, atividades, públicos, artistas e cenários. Podemos dizer que os agenciamentos surgem com a intenção de provocar lugares de exercício da diferença ou expressões artísticas alternativas - Eletro, Coco, beats, pop, rock, psicodelia e hardcore à revelia. O esforço de reflexão gerou novos processos de identificação pelas bandas do Pajeú. Diante destes sintomas, desejos, modulações do corpo e política sonora do cotidiano, artistas e públicos passaram a trans-bordar e perfilhar os sertões como ambientes culturalmente autônomos e produtivos. A construção de uma auto-identidade positiva é marcada por meio de discursos que elaboram outros vínculos de pertencimento. Neste sentido, a dimensão estética ou a transfiguração do cotidiano assume grande importância. O sentido comum dos coletivos está na capacidade de organização e autonomização das bandas, proporcionando, entre outras coisas: a ocupação de espaços públicos; o cultivo e a valorização da criação musical; a formação de um público; o preparo de pessoal de apoio, produtores e infraestrutura favorável à realização dos eventos; a experiência democrática e participativa de deliberação coletiva; a promoção de ações direcionadas principalmente às juventudes desses lugares. Justificamos a importância deste estudo que (ad)mira as movimentações das bordas e periferias, como também investiga a dimensão contemporânea de auto-representação. Procuramos escutar essa cena emergente para compreender os processos de identificação e legitimação de prática culturais alternativas no contexto regional, como também sistematizar o conjunto de experiências vivenciadas e lapidadas discursivamente.