Cinque Terre
GT 016. Antropologia das práticas juvenis
João Batista de Menezes Bittencourt (UFAL) - Coordenador/a, Marco Aurélio Paz Tella (Universidade Federal da Paraíba) - Coordenador/a
O presente GT tem como como objetivo reunir trabalhos resultantes de pesquisas em conclusão ou andamento, e que tenham como foco privilegiado de investigação as práticas juvenis em suas mais diversas expressões. Mudanças sociais, políticas e culturais ocorridas no ocidente, especialmente na segunda metade do século XX, produziram alterações significativas nas subjetividades juvenis, promovendo mudanças no conjunto das experiências que por muito tempo definiram os sentidos de “ser jovem” e “ser adulto”. Atualmente, as pesquisas antropológicas tem lançado mão de diferentes abordagens teóricas e metodológicas para a compreensão das práticas juvenis, onde se destacam a influência das teorias da agência, dos estudos sobre performactivity, das abordagens disposicionalistas, como também de uma releitura dos cultural studies. Desse modo, fazer uma antropologia das práticas juvenis em nosso atual contexto, trata-se não apenas estar atento às mudanças nos repertórios de sentidos acionados pelos/as jovens, como também se abrir para possibilidades interpretativas advindas de outros campos do saber. Serão aceitos para o debate nesse grupo de trabalho, pesquisas, especialmente etnografias, que se dediquem ao estudo das práticas juvenis a partir de diferentes temas, tais como: sociabilidades e territorialidades; gênero, sexualidade e relações étnico-raciais; educação, trabalho e profissionalização; arte e performactivity; entre outros.
Resumos submetidos
As interpretações em torno do graffiti e as identificações profissionais no âmbito da arte urbana
Autoria: Fernanda Brasil Mendes
Autoria: Este resumo está baseado na pesquisa para minha tese, versando sobre o primeiro capítulo da mesma. A pesquisa foi desenvolvida entre 2014 e 2018, sendo a defendida em abril de 2018. Foram realizadas onze entrevistas com grafiteiros e grafiteiras com idades entre 19 e 35 anos. O work de campo foi realizado acompanhando aulas e oficinas de alguns dos grafiteiros entrevistados, bem como, a observação de uma tarde de grafitagem. Para o graffiti ser compreendido se faz necessário uma contextualização, levando em conta sua história e contextos. É importante o debate sobre estética e política, dimensões relevantes para a definição desta prática, bem como as discussões e interpretações relacionadas à temática a qual propiciará reflexões sobre a construção das identificações profissionais dos grafiteiros na contemporaneidade. O entendimento, sobre o que é graffiti não é consensual, mas está relacionado ao contexto social, histórico ou científico de quem o define. O interesse, em relação ao graffiti, cresce em proporção ao crescimento do próprio fenômeno. Várias áreas do conhecimento estudam o assunto. Sua linguagem está presente nas ruas a tornando um problema social. O graffiti possui vários estilos, alguns possuem um tom de reivindicação e contestação, outros constroem um momento de expressão para mostrar sua arte. A partir dos estilos que recriam, visual ou comportamental, redimensionam e redirecionam a forma de fazer política, nesse caso, mais presente na esfera cultural. A estética baliza, ao longo do percurso do graffiti e dos grafiteiros, sua atitude política e procuram elementos que tenham a ver com seu estilo de vida. Alguns grafiteiros incorporam o estilo e vivem a cultura de rua, procuram conhecer a história dos pioneiros desse movimento, desenvolvendo seus estilos de letra até chegar aos desenhos e personagens. Sem cessar seu trajeto, o graffiti consagra-se como linguagem artística, expandindo sua expressão na mídia, nos jornais, na televisão e na Bienal. Cada grafiteiro deseja criar uma marca que produza uma identidade diferente de outro grafiteiro. Essa marca pode ser produzida em torno da coragem, ousadia, cores e espaços utilizados na grafitagem pela inspiração do momento ou a criatividade que se expande do persistente treino e do work. E inspirados na rua começam a desenvolver works comerciais e, também, em conjunto com órgãos públicos, assim, diversificando seus works. Para que essa profissionalização aconteça ampliam suas relações sociais atravessando as fronteiras do graffiti e das amizades construídas ali, levando em conta a importância de seus pares que trazem um contorno definitivo no impulso dessa caminhada.
Cartografias do Sombrio: música, performances e afetos no universo gótico de Fortaleza
Autoria: Sandra Stephanie Holanda Ponte Ribeiro
Autoria: No presente paper, trago a descrição das performances góticas com base no work de campo realizado durante a pesquisa de dissertação, na qual acompanhei as trajetórias de jovens afinados com o gótico – uma cultura alternativa que se popularizou na Inglaterra no final da década de 1970 – em seus circuitos de lazer na cidade de Fortaleza, estado do Ceará. A pesquisa objetivou refletir sobre como esses jovens vivenciam uma experiência com esse mundo artístico (BECKER, 2010) em diversos espaços e eventos musicais. No work, priorizei o uso de técnicas de investigação como a observação de campo, conversas informais face a face ou através da Internet e entrevista. Os jovens que têm uma afinidade com o mundo artístico gótico são aqueles que podem ser reconhecidos, em termos de estética, através do uso predominante de vestimentas pretas – em geral, roupas inspiradas nos visuais de bandas do estilo rock gótico e nos personagens de filmes clássicos de horror e da literatura gótica. Eles costumam frequentar locais como boates, bares, casas de shows, cinemas no centro da cidade e cemitérios. Ao observar as trajetórias desses jovens na cidade de Fortaleza, percebe-se que as experiências construídas em torno desse universo ultrapassam discursos e definições do que se institui ou não como gótico. As vestimentas e os acessórios que compõem a estética desses jovens, os gestos ritualizados executados durante os shows e as interações sociais da vida cotidiana fazem parte das performances góticas que, recombinadas em inúmeras variações, expressam a afinidade desses jovens com o mundo artístico gótico. No work, discuto sobre como a produção subjetiva nos encontros entre esses indivíduos é capaz de transformar suas performances. Mostro que, através dos afetos, mobilizados pela música, os jovens são impulsionados a romper com os códigos de comportamento, alterando suas performances e promovendo fluxos de intensidade. A música aciona a vibratilidade (ROLNIK, 1989) em seus corpos ampliando a disposição para se deixar atravessar pelos afetos, assim novas relações e conexões se formam durante os shows. Por fim, demonstro que, apesar de manter uma forte afinidade com o gótico, esses indivíduos, ao se permitirem relacionar com outros mundos, impossibilitam, ainda que parcialmente, a captura de seus afetos por uma “identidade gótica”. Mesmo as performances desses jovens, que expressam, através do corpo, essa afinidade pelo gótico, não impedem a formação de movimentos de fuga e de desterritorialização. Pelo contrário, são as performances atravessadas, alteradas, metamorfoseadas que possibilitam a transgressão dos códigos de comportamentos e impedem o fechamento em um ideal identitário.
Cidade, mobilidades e juventudes: uma reflexão sobre práticas de “ativismo contrageográfico” nas metrópoles sul-americanas
Autoria: Guilhermo André Aderaldo
Autoria: Diante de um conjunto de transformações recentes, envolvendo os campos do work, dos transportes, das mídias, do urbanismo e do mercado, análises sociais voltadas ao estudo das mobilidades tornam-se cada vez mais centrais para a compreensão das relações de poder características do mundo contemporâneo. Discutir tal tema implica em consideramos o fato de que a circulação de pessoas, objetos, imagens, narrativas e representações se conecta (de forma crítica ou passivamente comprometida) com mecanismos de controle, envolvidos na definição do que e de quem pode ou não circular. O estudo das mobilidades, assim, requer obrigatoriamente a análise das formas atuais de imobilidade. Atores centrais nesse cenário, os jovens, suas práticas, performances, reflexões e percursos, chamam a atenção pelo modo como se veem, muitas vezes, obrigados a lançar mão de soluções criativas para lidar cotidianamente com os desafios de sobreviverem num mundo urbano, assim como num mercado laboral tão complexamente marcados por lógicas discrepantes e ambivalentes, impossíveis de serem traduzidas através de referências binárias como centro/periferia, global/local, etc. O objetivo da exposição será, portanto, construir uma reflexão que seja capaz de ressaltar as potencialidades epistemológicas de análises centradas nas experiências móveis dos sujeitos, evitando reduzi-los à normatividade de representações apoiadas em suposições a priori acerca de suas identidades. Para isso me valerei dos dados obtidos através de duas pesquisas etnográficas recentes, voltadas ao exame da relação entre juventudes e ativismos “contrageográficos” em metrópoles sul americanas contemporâneas.
Coletivos jovens “Madame Satã”, “Nuvem Negra”, “Bastardos da PUC” e “Coletivo de Mulheres”: corpos, representatividade e interseccionalidade.
Autoria: Sônia Maria Giacomini, Sonia Maria Giacomini
Autoria: Essa comunicação é fruto de pesquisa etnográfica realizada junto a coletivos jovens da PUC-Rio: o Nuvem Negra, o Madame Satã, de Mulheres e o Bastardos da PUC. Relativamente recentes na vida universitária, essas formas associativas nomeadas coletivos têm se posicionado de maneira recorrente contra o racismo, o sexismo e inúmeras formas de desigualdade social dentro e fora da universidade. Ao mesmo tempo, têm-se constituído em referentes identitários, convocando e organizando negros, mulheres feministas, LGBTs e “bastardos”e/ou “periféricos”. A análise das variadas manifestações e eventos organizados por esses coletivos assim como de sua participação nos vários domínios e espaços do campus e da vida universitária, permite explorar, por meio de uma abordagem comparativa, as concepções de sexualidade, de gênero, de classe e de raça envolvendo construções corporais e estéticas que atualizam e identificam cada um desses coletivos assim como as suas fronteiras e aproximações.
E quem fica? Vivência dos jovens de São Francisco do Paraguaçu/BA
Autoria: Tiago Henrique Lara Zanette, Tiago Henrique Lara Zanette Milson dos Anjos Batista
Autoria: Esse pôster é resultado de uma pesquisa interdisciplinar mais ampla , iniciada em 2013, que tinha como principal objetivo desvelar o cotidiano dos jovens moradores das comunidades extrativistas no Recôncavo da Bahia. Conhecer suas práticas de uso das riquezas naturais, suas histórias, também os sentidos e significados que dão aos diversos espaços sociais, naturais e construídos, dentro e fora da comunidade. Destacando de que modo essas vivências tem relação com as mudanças pelas quais todos, ambiente e jovens, estão envolvidos. A pesquisa, de cunho etnográfico, acompanhou um grupo de jovens homens, que permanecem na comunidade tradicional, pesqueira e quilombola de São Francisco do Paraguaçu e dependem majoritarimente dos recursos disponíveis no ambiente natural. Parte considerável de suas atividades recreativas e laborativas, formas de organização, tem relação direta com a disponibilidade dos bens: mata, mangue e maré. Intercalando com o work de campo a pesquisa engloba a produção teórica sobre juventude, para manter um olhar crítico e refletir, mesmo previamente, por onde caminham as discussões, para que esta seja tratada como Juventudes e esteja relacionada com o contexto do qual as pessoas são parte, entre outras questões. Assim é importante pensar na multiplicidade das vivências, das práticas dos jovens que permanecem nas comunidades tradicionais e refletir juntamente com os participantes da 31° ABA caminhos para melhorar a qualidade de vida local.
Educação Escolar, Deslocamento e Juventude Indígena em Roraima
Autoria: Leonice Ferreira Morais, Marisa Barbosa Araujo
Autoria: Este work é um convite para a reflexão sobre a juventude a partir de diferentes perspectivas. Inicialmente, procuro refazer o percurso da educação escolar indígena no estado de Roraima, desde a atuação dos monges beneditinos no início do século XX até os dias atuais quando se percebe um grande deslocamento indígena para a cidade. Num segundo momento a reflexão recai sobre a trajetória de seis jovens indígenas de diferentes comunidades indígenas do estado de Roraima que se deslocaram para Boa Vista com o objetivo de estudar. As narrativas destes jovens são também, o ponto de partida para compreender a noção de juventude existente entre eles e suas motivações para o deslocamento. As análises das narrativas demonstraram que esses jovens se encontravam inseridos num contexto de relações sociais permeado por conflitos em suas comunidades de origem e que, para além da demanda por educação escolar, uma diversidade de outros fatores contribuem e possibilitam o deslocamento em direção à cidade. Neste contexto, a educação escolar assume pelo menos duas conotações: em primeiro lugar, é o argumento utilizado para deixar a comunidade e consequentemente os conflitos que os afligiam; em segundo lugar, é o meio através do qual acreditam ser possível concretizar seus projetos de futuro, que transcendem a formação escolar. Ficou também evidente a existência de um novo contorno na concepção de juventude indígena que representa um novo espaço para a reflexão e o debate antropológico.
Investigando práticas de protagonismo de jovens no grêmio escolar
Autoria: Maria Alda de Sousa Alves
Autoria: Neste texto lanço um olhar sobre as práticas de protagonismo juvenil observadas em duas escolas públicas de ensino médio no Ceará. Trata-se de apresentar resultados preliminares de pesquisa realizada através do edital UNILAB/PIBIC/CNPQ-ICJ entre os meses de novembro de 2017 a julho de 2018. Tomo como ponto de partida deste work as sociabilidades e protagonismos juvenis experimentados em espaços como os grêmios escolares, buscando captar os rituais de interação entre gestores, professores e alunos, a participação política da juventude e o espaço de escuta as suas vozes enquanto atores/interlocutores válidos, que ressignificam o cotidiano escolar. Em termos metodológicos é através do levantamento de fontes documentais como projetos políticos pedagógicos, regimentos escolares, regimentos do grêmios, atas de reuniões, materiais didáticos, fotografias, entrevistas com gestores, professores e alunos, que intento compor um mosaico de informações e interpretações relativas as seguintes reflexões: Como as práticas de protagonismo estudantil no grêmio repercutem positivamente na relação do jovem com a escola? De que forma o protagonismo é exercido entre os jovens alunos do ensino médio profissionalizante e regular? Quais as implicações do protagonismo juvenil nas subjetividades e trajetórias escolares?
Juventude e diversão como via de ação: rodas de conversa em uma escola pública do Rio das Pedras
Autoria: Vanessa de Andrade Lira dos Santos
Autoria: A presente investigação se dá a partir do recorte de uma atividade proposta em uma escola pública da rede estadual do Rio de janeiro, localizada na comunidade do Rio das Pedras, na região de Jacarepaguá. Através do que chamamos de “rodas de conversa”, foi possível partilhar narrativas juvenis sobre diversas temáticas relevantes em seus cotidianos, e algumas formas de articular atividades e se divertir em seus tempos vagos geraram esta reflexão. O primeiro passo foi lançar um olhar mais aproximado, sem chegar com um plano arquitetado, ficar perto e disposto a ouvir. Não significou despropósito, mas uma tentativa de manter a percepção aguçada e a atenção permeável às falas dos jovens. E assim foi possível começar a vislumbrar as primeiras pistas das suas formas de se divertir e das ações que suas estratégias de organização ocasionam no seu lugar. Cada pequena descoberta se amarrou numa seguinte, como uma teia que se amplia na medida dos contatos que permitimos partilhar. Pinçamos aqui algumas pontas desse emaranhado, de um movimento mais intimista, narrado em meio às risadas da sala de aula, até as redes culturais ativas no Rio das Pedras, que reúnem jovens na comunidade.
Juventude e masculinidade nas práticas cotidianas de jovens presbiterianos da Região Metropolitana do Recife.
Autoria: Sandro Soares Ramos de Freitas
Autoria: Esta proposta de work contempla os objetivos contidos em nosso projeto de tese, em desenvolvimento, e que visa, fundamentalmente, a análise das dinâmicas que envolvem a concepção de um modelo de masculinidade empreendido por jovens de uma comunidade evangélica. Tomamos como base as análises que temos desenvolvido desde a elaboração de nossa dissertação de mestrado, que tinha como objetivo analisar os processos que envolvem o ser e/ou o “aprender a ser homem”, a partir da perspectiva de jovens rapazes pertencentes a uma comunidade presbiteriana. Nossa pesquisa foca nos jovens que formam o autointitulado “Pequeno Grupo dos Rochedos” – ou “PG dos Rochedos” -, grupo composto exclusivamente por rapazes entre 17 e 26 anos, pertencentes à Igreja Presbiteriana de Casa Caiada (IPCC), localizada na cidade de Olinda-PE. Os “pequenos grupos” (PG’s) são subdivisões internas da IPCC, que consistem em agrupamentos, de no máximo trinta indivíduos, organizados a partir de interesses comuns entre seus membros. Nas reuniões do grupo são discutidos temas relacionados as experiências cotidianas de seus membros – no caso do “PG dos Rochedos” são comuns discussões sobre relacionamentos, sexualidade, carreira profissional, entre outros -, tendo sempre, como base, os textos bíblicos. Tendo as categorias de juventude e masculinidade como base, o argumento desenvolvido apontou que, para estes jovens, ser um “verdadeiro homem” é, inicialmente, fruto do aprendizado de uma disciplina física e cognitiva, que deverá então ser mantida ao longo de toda a vida do indivíduo. Para eles “ser homem”, antes de mais nada, é também ser um cristão reformado. No entanto, mais do que a simples reprodução e manutenção de um modelo de masculinidade tradicional, este grupo constrói o seu próprio modelo. Entendo que tal modelo oscila entre a reprodução e a reformulação – em relação ao modelo de masculinidade propagado tanto pela comunidade -, a depender dos contextos de ação nos quais estes jovens estão inseridos. Na tentativa de ampliar a compreensão sobre este processo, buscaremos observar as relações por eles estabelecidas em outros espaços – para além da comodidade religiosa - como, por exemplo, em suas relações familiares, entre os amigos que não são membros da mesma igreja e em seus locais de estudo ou work. Como base teórica para o desenvolvimento de nossas análises, destacamos as contribuições com as contribuições de autores como Regina Novaes e Helena Abramo, para compreender as dinâmicas que envolvem os jovens no contexto nacional, a discussão de Robert Connell acerca das múltiplas formas de construção da masculinidade e das discussões de Pierre Bourdieu e Bernard Lahire sobre a noção de habitus e os processos de socialização.
Juventude e pixação: a grafia como resistência na cidade
Autoria: Thaisa da Silva Ferreira
Autoria: O presente work tem como objeto de estudo as práticas de jovens pixadores no espaço urbano. O objetivo principal é analisar de que forma são construídas as relações sociais dos jovens pixadores no liame ao acesso e ao pertencimento à cidade, partindo da hipótese de que tal prática representa resistência, construção de identidade(s) e autoafirmação urbana. A pixação é uma prática que é entendida por uma parcela da sociedade brasileira como algo que deteriora, suja e degrada os espaços públicos e privados em que ela é inserida, no limite, a pixação está no código penal brasileiro como crime ambiental. Por outro lado, os sujeitos que dela se utilizam apontam especificidades em sua maneira de ser e de estar no mundo. Para refletirmos a respeito apresento percepções de um grupo de jovens pixadores da cidade de Goiânia. Segundo eles, a pixação exprimi uma grafia complexa e nela existe uma construção que atravessa o individual e o coletivo. Nesse aspecto, a pixação é entendida como uma forma de escrita e de visibilidade especifica sendo ela uma espécie de assinatura elaborada por cada pixador, contudo não é individualizada ela é coletiva, pois cada um de seus membros deve construir sua própria letra e apreender as dos demais componentes do seu grupo. Deve se saber reproduzir a assinatura de todos que pertencem ao grupo. A feitura do pixo por esses jovens também apresenta uma estética visual que é elucidada segundo eles a partir de uma maneira especifica e peculiar, sendo assim, é uma técnica comparada em oposição a outras, como por exemplo, o bomb, o grapixo e o próprio grafite. O texto em questão é parte de uma pesquisa em andamento e apresenta material de campo realizado na cidade de Goiânia. Tem caráter qualitativo e utilizou como metodologia a observação etnográfica e entrevistas. Logo, a análise das narrativas desses jovens, meninos e meninas, apontam para práticas juvenis que nos permite entender possibilidades distintas de estar e vivenciar a cidade.
Juventudes e institucionalidades: passos para uma etnografia a partir da ocupação e do pós-ocupação do Centro Paula Souza (São Paulo - SP)
Autoria: Carusa Gabriela Dutra Biliatto
Autoria: O work proposto integra pesquisa de doutorado em Antropologia (UFPR). O work de campo foi realizado junto aos Secundaristas em Luta na cidade de São Paulo e transcorreu entre dezembro de 2015 e abril de 2017. A pesquisa está situada no campo da antropologia das juventudes, sobretudo, em seu segmento voltado às interfaces entre juventudes e fazeres políticos. A abordagem está orientada por uma literatura em antropologia das emoções. Isso porque, esta intersecção constitui um componente que adquiriu relevo durante a etnografia. Entre outros elementos no indicado registro da dimensão sensível estão os seguintes: por um lado, a intensa presença das experiências denominadas como torturas, dor física, dilaceração psíquica; por outro lado, a intensa presença de situações lúdicas cujas formas expressivas principais são padrões de gestos, olhares, tom de voz e vocalização de gírias produtores de nexos de sentidos risonhos orientadores do conjunto de regras e valores constituintes da ação cotidiana entre os interlocutores. Nesse quadro, a formulação do problema de pesquisa advém de indícios verificados no work de mestrado sobre a necessidade de problematizar a categoria juventude objetivando, precisamente, uma reformulação de seu alcance heurístico em relação às ‘juvenilidades’ etnografadas. Nessa trilha, as inquietações atuais sintetizam-se no esforço de tomar como objeto de reflexão a relação entre a variação da categoria ‘juventude’ entnografada, por um lado, e, por outro lado, contribuições de Gregory Bateson para uma ‘teoria da ação no mundo vivo’. A indicada contribuição de Bateson tem por foco principal a relação entre a metanarrativa do significante ‘juventude’ articulado ao significante ‘ação’. A indicada articulação almeja, principalmente, emprestar inteligibilidade antropológica sobre a elaboração do modo de organização. A partir de um escopo em antropologia das juventudes, passei a tecer uma interligação com os estudos de Bateson sobre paradoxos da comunicação, no marco da lógica cibernética, para pensar mensagens, metamensagens e metametamensagens como termos em relação produtores de “patterns que conectam” compondo, inclusive, modos de organização dessas relações em forma de ação coletiva pelos interlocutores. Por fim, uma das proposições do work interpreta experiências denominadas por tortura, no pós-ocupação, como componente do cálculo do conflito não apenas visto por parte das forças de repressão e de pretensão de legitimidade do Estado, mas também por parte dos secundaristas que se posicionam como interlocutores político, inclusive, no âmbito do leito institucional do ordenamento democrático de controle da imprevisibilidade em um sistema de regulação da ação coletiva – neste caso, juvenil.
Lutas simbólicas, práticas juvenis e sociabilidade urbana: notas etnográficas sobre a cultura citadina gótica de São Paulo
Autoria: Douglas Delgado
Autoria: O presente artigo tem como objetivo refletir sobre a criação cultural entre os agrupamentos de góticos em São Paulo e sua relação com as dinâmicas sociais e culturais contemporâneas. A partir da observação de situações sociais, práticas culturais juvenis e do contato com a rede da “cena gótica paulistana”, marcadores identitários foram evidenciados no processo de interação entre os góticos. O ponto de partida são as diferenças “geracionais” demarcadas por interlocutores que estão envolvidos com a cultura gótica há pelo menos três décadas e participam de uma mesma cena com adolescentes da atualidade. As mudanças das relações de sociabilidade com a “sociedade hiper digital” tem grande peso na produção destas fronteiras. Por sua vez, os jovens góticos do século XXI observados, mobilizam fronteiras “ideológicas” para elaborar seus processos de identificação enquanto “desenvolvimentistas”, empenhados em um discurso que defende a ampliação quantitativa e qualitativa da cena gótica e que se diferenciam dos “elitistas”, representados como defensores de uma cultura gótica “pura”, com “poucos conhecedores”. Por fim, os “sentidos do consumo” são articulados na representação de góticos que “esvaziam o significados” nos usos de bens, não reconhecendo os elementos histórico-culturais da cena. A questão das práticas de consumo agrega góticos identificados nesta intersecção geracional, os quais compreendem a necessidade de “resistência” à fragmentação identitária da vida moderna. Estas variadas disputas simbólicas manifestam a criação cultural urbana dos góticos em São Paulo: uma cultura criada no conflito. Lutas identitárias que apresentam de maneira concreta diferentes problemas dos processos sociais e culturais contemporâneos, como as disputas geracionais em uma cena musical; as mudanças nas práticas de sociabilidade na virada do século; a apropriação de conhecimentos das ciências sociais nos discursos de agrupamentos de jovens urbanos; a importância do uso da internet nos atuais processos de identificação; as discussões sobre práticas de consumo e identificação.
O protagonismo juvenil como instrumento discursivo pedagógico: resultados de uma etnografia sobre o modelo "Escola da Escolha" na construção das identidades juvenis em uma escola do Maranhão.
Autoria: Daniel Oliveira da Silva, Safira Sena Elysmar Cardoso
Autoria: Esta comunicação esta respaldada em uma investigação etnográfica, que buscou analisar o encontro de jovens, entre 14 e 18 anos, com o modelo discursivo denominado de “Escola da Escolha”, que no estado do Maranhão vem sendo implementada pelo Instituto Estadual de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão, o IEMA. Essa instituição funciona em rede oferecendo educação profissional técnica de nível médio nas localidades com os mais baixos IDHs maranhenses. A pesquisa foi realizada na Unidade Plena localizada no município de Timon, região leste do Estado, onde começou a funcionar no início do ano 2017. Desde então, alguns jovens da periferia de uma pequena cidade do interior, estão tendo a construção social de suas identidades cruzadas por discursividades relacionadas ao desenvolvimento de competências que sumariamente estão permeadas na alegoria denominada "jovem protagonista". A produção desta etnografia contou com a participação de dois alunos/bolsistas, que se posicionam como intermediários de acesso à cosmologia cultural do corpo discente, assim procuramos descortinar as memórias e subjetividades relacionadas ao encontro deles com o modelo proposto, através das vivências e experiências cotidianas marcadas por distanciamentos e liminaridades.
O SER ADOLESCENTE E O SER ADOLESCENTE-INFRATOR: um estudo sobre os estigmas e trajetórias de jovens prestadores de serviços na cidade de Belém (PA)
Autoria: Ana Paula Nunes Ferreira
Autoria: Neste work, compartilho alguns aspectos observados durante a pesquisa que realizei junto aos adolescentes do Programa de Humanização das Medidas Socioeducativas, desenvolvido pelo Centro de Apoio Operacional da Infância e da Juventude, órgão de caráter auxiliar, vinculado a Procuradoria Geral de Justiça do Ministério Público do Pará. O Programa consiste no recebimento de adolescentes sentenciados ao cumprimento da medida de Prestação de Serviços à Comunidades (PSC), oferecendo como parte integrante do cumprimento da medida a participação em atividades – cursos, oficinas, palestras etc.-, de caráter educativo e profissionalizante, no intuito contribuir com a reeducação dos jovens e, estimula-los a pensar a construção de um projeto de vida (VELHO, 1994) para além da PSC. A experiência ainda viabilizou contato com as rotinas de atendimento das instituições responsáveis pelas políticas públicas do sistema socioeducativo, bem como possibilitou observar o sujeito adolescente-infrator dentro do processo de disciplina (FOUCAULT, 2008) e reajustamento que envolve sua ressocialização na cidade de Belém do Pará. O estudo analisa ainda as trajetórias de vida percorridas pelos adolescentes participantes do Programa no mundo urbano contemporâneo. A cidade de Belém enquanto uma sociedade complexa é o espaço em que as contradições se tornam ainda mais evidentes (OLIVEN, 2007), onde se observa que a urbe se projeta como um universo em que se constroem perspectivas, oportunidades de ascensão social, ao mesmo tempo em que os segrega e, a partir daí, limita suas potencialidades de acesso ao direito de usufruir a/da cidade. Foi realizada uma pesquisa etnográfica por meio da observação participante, com a utilização de caderno de campo. O uso de imagens será feito observando o Art. 247 do Estatuto da Criança e do Adolescente, que tem por objetivo a proteção integral da identidade e imagem da criança/adolescente. REFERÊNCIAS FOUCAULT, M. Vigiar e punir: nascimento da prisão. Petrópolis: Vozes, 2007. GOFFMAN, E. Estigma: 4 ed. Rio de Janeiro: LTC, 2008. OLIVEN, R. A antropologia de grupos urbanos: 6 ed. Petrópolis, 2007. Disponível em: file:///C:/Users/Paula/Downloads/OLIVEN-Ruben-George-A-Antropologia-de-Grupos-Urbanos-pdf.pdf. Acesso em Fev/2018. VELHO, G. Projeto e Metamorfose: antropologia das Sociedades Completas. Rio de Janeiro: Zahar, 1994.
Onde estão as meninas? Questões para pesquisas com práticas juvenis dominadas hegemonicamente por homens
Autoria: Alexandre Barbosa Pereira
Autoria: Pesquisadoras e pesquisadores que abordam práticas culturais juvenis hegemonicamente dominadas por meninos já devem, ao menos alguma vez, em alguma exposição de seu work ter ouvido a importante e instigante questão: Onde estão as meninas na sua pesquisa? Essa é uma pergunta importante e que revela aspectos que quem estuda as práticas culturais juvenis tem de levar a sério, pois aponta para a necessidade de se refletir profundamente sobre a presença hegemônica de meninos ou sobre a ausência das meninas. No entanto, apesar dos estudos de gênero terem alcançado grande repercussão nas ciências sociais e na cena pública brasileira contemporânea, essa não é uma pergunta tão nova no campo dos estudos de juventude. Nos anos 1970, na clássica coletânea da Escola de Birmingham, Angela McRobbie e Jenny Garber já questionavam a ausência das meninas dos chamados estudos subculturais, destacando não só a falta, mas também o fato, de muitas vezes, sua presença ser de forma estereotipada, como: caladas, passivas ou marginalmente representadas. Assim, algumas considerações devem ser feitas. Afinal, se por um lado não invisibilizar as mulheres e nem construir visões estereotipadas sobre os papéis de gênero são tarefas fundamentais, por outro, abordar as atividades dominadas por homens ou que expressem aspectos de certas concepções de masculinidades hegemônicas também se mostra imprescindível. Trata-se, portanto, de refletir sobre como, mesmo em práticas culturais juvenis em que não constem como uma pauta de atuação, as questões de sexo e gênero estão a se constituir por meio de interações e performances. Nesse sentido, a proposta é justamente discutir, a partir de pesquisas etnográficas em diferentes contextos de maior domínio masculino em performances juvenis públicas, as especificidades de gênero e, principalmente, como abordar a dimensão das masculinidades hegemônicas. O objetivo é proporcionar, assim, um olhar crítico sobre movimentos como a pixação, as zoeiras dos estudantes e o funk, entre outras práticas culturais juvenis estabelecidas principalmente em São Paulo. E, por fim, discutir-se-á as implicações dos papéis de gêneros de pesquisadoras e pesquisadores no campo dos estudos de juventude.
Os jovens do ensino médio noturno da rede estadual do Rio de Janeiro: trajetórias, expectativas e a relação com a educação
Autoria: Marlies da Costa Bengio
Autoria: O work tem o objetivo de analisar as trajetórias e as expectativas dos estudantes de ensino médio que estudam no turno da noite numa escola estadual, que se localiza no município de Duque de Caxias. O ensino médio ainda enfrenta problemas relacionados ao acesso, à permanência e à aprendizagem dos estudantes. O debate acerca dessa etapa da educação básica perpassa por aspectos que envolvem tanto a escola como fatores extraescolares, inclusive o mercado de work. Todos esses fatores podem interferir nas trajetórias dos estudantes, bem como na construção ou não de possíveis projetos. Inicialmente, é possível afirmar que as desigualdades educacionais contribuem para as trajetórias não lineares e para a não permanência dos estudantes de classes populares na escola, levando esses jovens a fazerem escolhas ligadas ao mercado de work e/ou à conjugalidade. Os dados foram coletados a partir de questionários que tinham o objetivo de identificar as expectativas dos estudantes de duas turmas em relação à escola e à conclusão do ensino médio no início do primeiro ano. Após a aplicação dos questionários, foram realizadas entrevistas com estudantes que abandonaram a escola para compreender os motivos que os levaram a sair da escola. Além disso, houve a realização da participação observante durante as aulas, com a finalidade de entender as relações estabelecidas entre os alunos e os professores, mas também para refletir sobre as permanências e as desistências. As análises preliminares sinalizam que as decisões dos jovens apresentam demandas e questões específicas relacionadas ao work, à família e à escola.
Práticas juvenis de lazer na periferia: estudo de caso
Autoria: Vanderlan Francisco da Silva
Autoria: Este work discute as práticas juvenis de lazer na Ramadinha, situada na cidade de Campina Grande-PB. De acordo com suas características infraestruturais, a localidade pode ser considerada como aglomerado subnormal, de acordo com o neologismo utilizado pelo IBGE para classificar as situações de moradia marcadas pela precariedade na infraestrutura. Situada na zona oeste do município de 400 mil habitantes, a Ramadinha é fruto de ocupação irregular, existe há 36 anos e tem 3400 moradores. Seus moradores são constantemente estigmatizados pelos discursos midiáticos e dos citadinos de outros bairros da cidade que os acusam de serem “maconheiros” e “criminosos”, praticantes de crimes recorrentes no cotidiano da cidade, a exemplo de roubos e furtos. Entre os que veem recair sobre si as marcas da “desqualificação social”, os jovens são os primeiros e principais destinatários de tais preconceitos. A pesquisa que serviu de base para esse work foi desenvolvida a partir da observação direta das práticas juvenis de lazer no espaço geográfico da Ramadinha, através de entrevistas semi-estruturadas com duas dezenas de interlocutores de ambos os gêneros. Os resultados das análises apontam que o forte estigma que atinge os jovens da Ramadinha tem funcionado como elemento de controle que limita o acesso desses aos equipamentos e, por conseguinte às práticas de lazer existentes em parques e praças situados além dos limites da “favela”. No interior desta, vários são os caminhos construídos pelos jovens na busca do prazer, esse elemento singular, cuja busca/realização marca as práticas de lazer. Caminhar em grupo pelas ruas da Ramadinha “jogando conversa fora”, ir à lanchonetes após o culto religioso, jogar bola no campo de várzea construído pelos moradores, jogar bola em frente de casa, paquerar na saída da igreja, assistir filme e programa de televisão com amigos, sentar-se nas cadeiras em frente a casa para ver o tempo passar, ir a churrascos, participar de aniversários e batizados são algumas das atividades de lazer das quais os jovens participam no cotidiano da localidade. Para além das práticas “espontâneas” de lazer das quais participam, existem muitas atividades de lazer organizadas pelos moradores, através de work voluntário e regular que viabilizam cursos de dança com frequência semanal, cursos de karatê, escolinhas de futebol, etc.
Resistir no campo: etnografia das performances políticas de jovens indígenas e sem-terra no Paraná.
Autoria: Fernanda Marcon
Autoria: A presente proposta trata do desenvolvimento inicial de um projeto de pesquisa vinculado ao grupo de pesquisa “Antropologia, Jovens e Juventude”, da Universidade Federal da Fronteira Sul. O projeto objetiva a realização de uma etnografia a respeito das performances políticas de jovens indígenas e sem-terra no Paraná, buscando compreender a relação estabelecida por estes jovens a partir do vínculo com o contexto do campo, na luta por demarcação de territórios, acesso à terra e permanência no campo. Através da experiência como docente no curso de Licenciatura Interdisciplinar em Educação do Campo – Ciências Sociais e Humanas da UFFS, campus Laranjeiras do Sul-PR, observou-se a articulação política de jovens do curso em torno da luta por reconhecimento da educação do campo, tanto pela universidade quanto pelo governo estadual e municipal, além de questões e demandas relacionadas aos movimentos sociais a que se vinculam, como o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) e movimentos indígenas com diferentes demandas, como demarcação de territórios e acesso à saúde e educação. Assim, pretende-se realizar a pesquisa de campo nos espaços em que desenvolvem-se as práticas políticas destes jovens de modo a compreender como se dá a articulação de suas demandas e quais as estratégias performativas de que lançam mão para a expressão das mesmas, observando, sobretudo, a intersecção de visões de mundo e modos de participar politicamente destes jovens do campo. A etnografia irá basear-se na observação de campo, realização de entrevistas com jovens que se autodeclarem como indígenas e jovens integrantes de movimentos sociais do campo, como o MST e o MPA, além de registros audiovisuais. Parte-se da concepção de que a etnografia constrói o campo de pesquisa a partir das experiências de seus interlocutores e não os delimita a espaços pré-determinados, seja a aldeia, o acampamento ou o assentamento. Tampouco limita-se ao espaço universitário, embora o conceba como um ponto de partida para a investigação. Entende-se que as práticas políticas não estão encerradas em espaços definidos, especialmente os espaços públicos, tradicionalmente entendidos como a esfera por excelência dos debates, das mobilizações e tomada de decisões. Em outras palavras, pretende-se observar as diferentes formas de fazer e perceber subjetivamente a política entre jovens indígenas e sem-terra no Paraná, particularmente entre os estudantes da UFFS. A pesquisa visa contribuir para uma compreensão mais ampla sobre a participação política dos jovens do campo, levando em conta sua diversidade de experiências sociais e culturais.
Rua pura: ativismos juvenis no extremo leste paulistano
Autoria: Giancarlo Marques Carraro Machado
Autoria: A Zona Leste paulistana apresentou nas últimas décadas um considerável processo de reestruturação de sua paisagem que impactou de maneira contundente o cotidiano de seus habitantes. Com a efetivação de políticas públicas e de demais tipos de iniciativas, a região vem passando por uma espécie de reconversão econômica fomentada pelo estabelecimento de projetos sociourbanísticos e pela justaposição, ainda que de forma difusa, de grandes empreendimentos vinculados ao setor terciário, como a construção de shoppings centers, centros comerciais, hotéis, redes de hipermercados, arena esportiva etc. Tudo isso tem contribuído para reposicioná-la estrategicamente em escalas mais amplas, condição que não exclui, todavia, a persistência de enclaves em que se revelam notáveis desigualdades e segregações. As transformações ocorridas contribuíram para banir, ordenar ou embaralhar certos usos que se processavam em espaços e equipamentos dispostos em seus limites, no entanto, de igual modo, é possível considerar que o processo de urbanização do leste de São Paulo também viabilizou o florescimento de uma série de práticas citadinas juvenis que vem consolidando novas formas de sociabilidades que ora rechaçam ora se coadunam a determinadas pretensões econômicas, políticas e urbanísticas. A prática do skate é apenas uma das que agencia certos aspectos do processo de urbanização que se consolida nesta região da cidade. As suas dinâmicas locais revelam características que perpassam o universo do skate em escala mais ampla, como a predisposição para circulação pela cidade (rolês) e apropriação de equipamentos urbanos (picos). No entanto, essas regularidades são acomodadas a outras experiências citadinas que fazem parte do cotidiano juvenil das quebradas paulistanas. Ao levar em conta as considerações aqui apresentadas, objetiva-se apresentar as relações de poder, assimetrias, desigualdades e segregações que calham na região leste de São Paulo com vistas a problematizar como os skatistas resistem e se impõem em toda sorte de espaços a partir de suas manobras e táticas. As análises etnográficas abordarão a atuação dos skatistas integrantes de um coletivo do distrito de Cidade Tiradentes, chamado Love CT, os quais, por meio de suas manobras e demais tipos de experiências citadinas e ativismos, vêm repolitizando os significados de uma cidadania muitas vezes almejada para jovens de camadas populares e moradores de áreas periféricas.
Tempos e Espaços de Sociabilidade: notas de uma etnografia das trajetórias juvenis na Grande Cruzeiro, em Porto Alegre, RS, Brasil.
Autoria: Ana Patrícia Barbosa, Ana Luiza Carvalho da Rocha
Autoria: O presente work apresenta um estudo etnográfico acerca das experiências juvenis transgeracionais em camadas populares, considerando o tempo, o espaço, as redes sociais e os seus territórios de vida. O objeto de estudo são os processos diferenciais, entre gerações, de formas de vida social dos jovens nos espaços urbanos das grandes cidades, tendo como ponto de partida o cotidiano e as redes de relações que os circunscrevem frente às condições estruturais de pobreza, violência e segregação social em que vivem. A pesquisa orientou-se pelo argumento da produção de territorialidades, direcionando o seu foco para experiências geracionais juvenis urbanas possíveis. Essa questão é analisada no presente estudo, a partir de continuidades e rupturas na produção territorialidades e dinâmicas socioespaciais juvenis na Grande Cruzeiro, uma das maiores favelas da cidade de Porto Alegre, capital do estado do Rio Grande do Sul, no Brasil, através do resgate das histórias, das imagens das memórias do território apresentando-o como objeto de contínua construção, por meio de uma sobreposição de camadas de tempo e de sujeitos e grupos sociais, que oferece possibilidades de duração no tempo frente as (im)possibilidades cotidianas que se expressam no cenário urbano. No que se refere ao estudo sobre as territorialidades juvenis, trata-se de compreender os fluxos que tecem os movimentos dos jovens, em diferentes gerações, para fazerem a vida diante das metamorfoses que ocorrem no espaço vivido, resultantes da intensificação do processo de urbanização da cidade, e que afetam as áreas de moradia dos jovens das camadas mais pobres da população e as estratégias construídas pelos moradores para permanecer no local.Para desenvolver esta perspectiva analítica, optei pelo estudo dos itinerários urbanos, memória coletiva, trajetórias sociais e das formas de sociabilidade de jovens num determinado espaço: a região da Grande Cruzeiro, na cidade de Porto Alegre, RS. Para este fim, construí uma cartografia espaço-temporal de territorialidades e experiências urbanas, de forma a compreender como se configurou, ao longo do tempo, um meio urbano que ofereceu possibilidades de territorialização/desterritorialização/reterritorialização, continuidades/descontinuidades.
Trajetórias e narrativas de jovens do Perímetro Curu-Paraipaba (Ce): Práticas juvenis, rupturas e continuidades ao longo de gerações
Autoria: Virzângela Paula Sandy Mendes, Antonio George Lopes Paulino
Autoria: O presente estudo parte da seguinte inquietação: como os jovens do Perímetro Curu-Paraipaba tecem as suas trajetórias num contexto em que a agricultura familiar, finalidade de ser do Perímetro, vem sofrendo modificações/rupturas que possivelmente configuram a descontinuidade desse modelo tradicional? Trata-se de um estudo de natureza etnográfica, concebido a partir de observações vivenciadas em um longo período de inserção em campo e ampliado a partir da construção de tese de doutorado, especificamente entre os anos 2015 e 2018. Para entender as trajetórias dos jovens de hoje se faz necessário um olhar para o passado, considerando as configurações que marcaram a gênese do Perímetro, entendendo esse espaço rural como fruto da intervenção estatal (mediada pelo DNOCS) na década de 1970. Para contextualizar esse período, esse estudo etnográfico, traz narrativas de colonos e filhos dos mesmos sobre a chegada ao Perímetro, a adaptação, o estranhamento e um modelo familiar camponês de existir. Num segundo momento, trago as narrativas biográficas de três jovens, netos de colonos, destacando suas trajetórias e práticas juvenis em um contexto planejado para a continuidade do work agrícola familiar. Alguns interlocutores, empenhar-se nos estudos se apresentou como uma possibilidade de escapulir da roça. A agricultura é exposta pelos narradores como uma atividade desgastante e pouco valorizada, o que pode influenciar no distanciamento dos jovens em relação ao work na agricultura. As narrativas aqui apresentadas demonstraram que a organização familiar em torno da agricultura sofreu profundas modificações, se compararmos ao modelo inicial da família do colono e o que temos hoje. Os jovens que estão estudando pretendem seguir outras profissões. Por outro lado, a agricultura ainda oferece possibilidades de futuro, é uma alternativa para o caso da impossibilidade de levar adiante os projetos ligados aos estudos e a empregabilidade formal.
Um projeto social e suas práticas juvenis: Sociabilidades, trajetórias de vida e itinerários de jovens de periferias
Autoria: Carine Lavrador de Farias, Prof. Dr. Caterine Reginensi (orientadora) - código da inscrição dela: 8459878
Autoria: Esta pesquisa buscou analisar como os projetos sociais voltados aos jovens, cooperam para diferentes formas de sociabilidades, através do olhar de um grupo de jovens que habita um lugar sujeito às condições de pobreza. Alguns autores afirmam que existem jovens da mesma faixa etária que vivem juventudes diferentes, pois, os lugares onde eles residem influenciam a maneira como irão circular na cidade e suas práticas sociais. Ou seja, para pensar a circulação e as práticas dos jovens na cidade é preciso analisar o seu contexto e construções territoriais. O que nos move é presumir como, a partir da sociabilidade e da participação em projetos sociais, tais jovens são capazes de construir em processos interacionais no e com o espaço urbano, suas identidades. Há de ver também como a participação em Programas, contribui para a reelaboração da inserção no bairro onde vivem e expectativas e projetos de futuro. No caso, destaca-se o programa municipal, implementado na cidade de Campos dos Goytacazes, região norte fluminense do estado do Rio de Janeiro - o Jovens pela Paz (JPP). A escolha dessa abordagem, baseada em trajetórias de vida, vem completar as observações, registros de fotos e os itinerários, recolocando a questão das relações entre o indivíduo e o meio social em outros termos. A metodologia da pesquisa se deu através de entrevistas semiestruturadas e do método de itinerários, perpassando locais que ilustram esta trajetória de vida e a relação atual que o pesquisado vive com determinadas partes da cidade em seu cotidiano. Deste modo, a partir dos dados já coletados destacamos que, mesmo carregando o estigma por ser jovem e morador de periferia, ser jovem de projeto social acaba por afastá-lo simbolicamente do campo da marginalidade e do crime. Ser de projeto permite, através das novas relações de amizade, de circulação, de vínculos e de cidadania, estabelecer novas redes de sociabilidades, que permitem o enfrentamento dos problemas de “ser jovem morador de favela” como: violência, medo, ausência de espaço de lazer e etc. Ser participante de um projeto social, dentro da favela, não é apenas estar em um projeto social, e sim partilhar um estilo de sociabilidade que se difere dos demais. Compreendemos que os jovens que frequentaram o projeto analisado apreenderam certa positividade de tais vulnerabilidades, resistindo, demostrando uma perspectiva de crítica social, como demostrado em suas falas sobre condições de vida e projetos de futuro.
“Eu não canto rap para branquelo de classe média”: uma análise sobre disputas de legitimidades performadas por rappers no circuito alternativo do Crato
Autoria: Jakeline Pereira Alves, Dr. Vanderlan Francisco da Silva
Autoria: A presente comunicação objetiva analisar o processo de imersão de rappers nos espaços públicos que configuram o circuito “alternativo” do Crato, cidade situada na região metropolitana do Cariri, no sul do Ceará. Por meio da realização de entrevistas com os interlocutores desta pesquisa e observação participante durante os eventos denominados “Batalha da Estação” e “Batalha do Cristo”, organizado e agenciados por rappers da referida região, foi possível constatar conflitos e tensões entre sujeitos que disputam por legitimidades na difusão de uma nova estética no circuito alternativo local, inaugurando novas práticas de lazer e sociabilidades, construídas em torno do rap, ao mesmo tempo em que buscam visibilidades a partir de usos e apropriações dos espaços públicos no centro da cidade. A intersecção de gênero, classe, raça/etnia e geração são elementos que integram a análise dessa proposta, uma vez que elementos como “Centro”, “Periferia”, Masculinidades, Feminilidades, “Negros”, “Brancos”, aparecem com recorrência nos discursos dos sujeitos durante as batalhas de rimas. Essa estética vem sendo predominantemente construída por sujeitos oriundos das periferias das cidades de Crato e Juazeiro do Norte, que se deslocam dos seus bairros de origem para afirmar suas identidades por meio de performances que se constituem como estratégias de superação de invisibilidades, através da luta pelo reconhecimento de suas existências e em resposta aos estigmas sociais. É por meio de discursos e práticas sonoras elaboradas em torno do rap que sujeitos agenciam conflitos e difundem suas diferenças na cidade.